terça-feira, novembro 29, 2005

Vive quem vive ou em busca da loira inteligente

A autora deste blogue escolheu um caminho pré-definido para tentar obter rápido tempo de antena. Este é o facto. Vamos à parte crítica. Podia deixar passar em branco o blogue da Passarinha, ou «Maria do Céu», ou a miúda do sorriso «giruuu», mas este post que claramente me é dedicado em virtude de ter escrito uma coisa sobre a Ota, no qual sou chamado do mesmo nome que coloquei no meu post, agradou-me ao ponto de perder tempo com a miúda alegre. Agora que não se acobarde. Adoro que me chamem nomes, principalmente se forem feios. Regra geral, a comunicadora espigadota é agarrada por um bracinho e encostada de costas contra a peça de mobília mais próxima. Mas isso é jogo e só no caso de existir intimidade, não vá dar-se o caso de a passarinha se entusiasmar. O blogue é provocatório, levemente patético, com alguns assomos idiotas. Segue este ditirambo: A maioria dos blogs são de pessoas mt tristes, sempre a pensar e preocupados com politica, futebol, desgostos! N pode ser, ok? Vamos a Ibiza dançar? A vida n é só sofrer!!!! Depois disto podia não dizer mais nada, o post estava completo. Mas o meu relógio biológico não aceita fechar os olhos antes das 3, gosta de actividade nocturna. Ficamos a saber que falar sobre eleições presidenciais, a vitória do clube, um livro, uma ideia a partir de uma experiência, etc, é sofrer, é não gostar de viver. Gostar de viver é apanhar um avião para Ibiza. Certo. Depois provoca por mero desfastio, só para contrariar. Como preferência musical coloca Antony and the Johnsons, mesmo sabendo que é um grupo conotado, já que simpatiza com colagens generalizadas, com o tipo de pessoa que ela critica. A ideia em que se podia basear, sem a Maria Cabeça No Ar se dar conta, tem o seu interesse. A questão de perceber que a realidade desfaz sempre os princípios colocados acima dela. Mas aqui já estou a entrar por caminhos mais próprios de um gajo pensante, imagem assustadora para passarinhas nervosas. Quase podia simpatizar com a ideia geral da Menina dos Donuts (espero que sejam daqueles com buraco) se ela ao menos ficasse um pouco mais próxima do alvo, do meu alvo. Eis o meu objectivo em termos de socialização próxima, sujeita claro está à minha imperfeição humana. Tentar provar, a mim em primeiro lugar, que é possível ler Proust e foder com ardor bárbaro, ou interessar-me por Israel ao mesmo tempo que me embebedo com cerveja ou vodkas enquanto danço até à hora dos jornais chegarem ao quiosque de Santa Apolónia, ou falar três horas com alguém compenetrado e muito informado de modo tão impecável quanto consigo sacar risos e sorrisos à lojista das mamas boas no Vasco da Gama, ou gostar de filmes menos óbvios ao mesmo tempo que despejo seis vezes os colhões em menos de 24 horas. Não acredito que haja muita coisa que se exclua mutuamente, nem existe o tempo todo do mundo para decidir dessa forma parcelar. Cada vez que encontro alguém que convive com alguma Cultura da mesma forma que convive com um broche bem feito não há dúvida que encontrei alguém a reter na minha vida. Mas a preferência é tão-só uma prioridade. Não é desprezo por campónios de aspecto rural mas com qualidades desconhecidas. Mesmo que no final tudo não passe, e passa, de mera declaração de intenções o meu propósito é dirigido sobretudo a muita gente «séria» e depois aborrecida que se tem em alta consideração por frequentar ou fazer parte de circulos informais ou estabelecidos menos disseminados, julgando-se acima do Outro. Não passam de gente triste sem lágrimas, como muitas vezes noto, e neste ponto sou capaz de me aproximar da Maria «giruuuu». Mas apelar ao não pensamento e à escolha inculcada, mesmo por brincadeira, é da ordem do insulto num país fraquinho como Portugal. Espero como visitante d' A Passarinha continuar convidado para Ibiza, embora lamente se não existirem donuts ou fair-play suficiente...

P.S. Naquele estilo em que já não há volta a dar, sobre blogues e autores escrevi isto em Abril do ano passado. Por isso estou muito à vontade no assunto. Entretanto até se pode dizer que o panorama melhorou bastante.

domingo, novembro 27, 2005

Uma vez mais e como são horas, lamento se não for o caso...

"...o drama sacro, o austero, o piegas, a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias, um pandemonium, alma sensível, uma barafunda de cousas e pessoas..."

Memórias Póstumas, por exemplo, de Brás Cubas.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Paulo Gorjão no Bloguitica:

"«[C]onvém ter na Chefia do Estado alguém que conheça a História e a cultura do nosso país, alguém que conheça Os Lusíadas, o nosso poema máximo», referiu Mário Soares (DN, 21.11.2005).
1. Leu o artigo de Vítor Bento? [D.E.]
2. Alguém consegue explicar qual é a razão objectiva que impõe a obrigatoriedade de ter alguém na Presidência da República que conheça Os Lusíadas? A Ilíada?
3. Cavaco Silva come bolo rei com a boca aberta. Cavaco Silva não leu as obras clássicas. Já todos percebemos que, tal como a maioria dos portugueses, Cavaco Silva não nasceu num berço de ouro. É a vida. E não tendo nascido num berço de ouro -- i.e. não sendo descendente da casta aristocrática preparada para nos governar -- como é que ele ousa usurpar o trono ao seu legítimo herdeiro? Em suma, como é que um reles provinciano de Boliqueime, que subiu na vida à custa do seu próprio esforço (imagine-se, tamanha ousadia...!), admite candidatar-se à Presidência da República?
4. Esta arrogância cultural é um assunto que me toca pessoalmente. Tal como no caso de Cavaco Silva, os meus pais também são pessoas modestas. Na minha infância não aprendi a tocar piano, nem fui estimulado a ler os clássicos. Inevitavelmente, ou talvez não, fui um aluno mediano no secundário. Sem ter alcançado as médias de acesso ao ensino superior público, ingressei no ensino superior privado, por pressão dos meus pais. Foi apenas nessa altura que adquiri o gosto pelo estudo e que me esforcei por ser acima da média em alguma coisa. Passei muitas noites a estudar e li centenas de livros técnicos (e não os clássicos...). Paralelamente, fiz muitas directas para ajudar os meus pais na sua actividade profissional. Por outras palavras, aquilo que alcancei até hoje não o devo ao meu apelido sonante, ou às minhas origens sociais privilegiadas. Ocasionalmente, sou capaz de começar a falar quando ainda tenho comida na boca e, eventualmente, sou capaz de colocar os cotovelos em cima da mesa. Horror dos horrores, sou capaz de fazer coisas ainda piores. Nunca li Os Lusíadas de uma ponta à outra. Tenho conhecimentos muito rudimentares sobre música clássica e não percebo absolutamente nada de poesia. Tudo isto significa que não posso ascender socialmente em Portugal? Que não vou ser tolerado pela elite aristocrática e que nunca poderei vir a ser Primeiro-Ministro ou Presidente da República? Não acha que há aqui qualquer coisa profundamente errada?
5. Leu o artigo de Vítor Bento?
"[D.E.]

Desta vez o linque não chegava, prefiro o texto todo. Originalmente publicado no Bloguitica [post 1396].

quarta-feira, novembro 23, 2005

Que termine o Grande Pretexto

A demissão de Ariel Sharon do Likud e a novidade da consequente fundação de um partido ao centro (Partido da Responsabilidade Nacional), bem como a convocação de eleições antecipadas (28 de Março) adensa as melhores perspectivas para o cumprimento do Roteiro da Paz no conflito israelo-palestiniano. As repercussões no Médio-Oriente, principalmente a forma como Israel é vista pelos seus vizinhos, poderia de agora em diante sofrer uma melhoria significativa, não estivessemos nós a falar de estados de cariz fundamentalista e oligárquico onde o ódio a Israel serve de pretexto à manutenção de líderes e políticas nefastas à paz e democracia. Foi o próprio Sharon (com um «passado negro na repressão palestiniana» enquanto General) que percebeu no programa do Likud a incapacidade de dar resposta a objectivos realistas para um futuro de paz. As guerras políticas internas que tinham por base os nacionalistas e a não concessão de território aos palestinianos eram muito difíceis de ultrapassar no seio do próprio Likud. Também Shimon Peres pode sair do partido Trabalhista (onde perdeu as eleições internas) e juntar-se a Sharon no partido recém-criado e contribuir com um auxílio decisivo para um objectivo de futuro. A omnipresente questão das fronteiras e domínio territorial (por questões histórias, religiosas, ou de recursos naturais) continua a ser a pedra de toque de todo o processo, mas da parte de Israel existe vontade política. Depois da última oportunidade perdida com Clinton e Barak, falta agora que o novo partido vença as eleições e exige-se a colaboração e o bom senso dos responsáveis palestinianos.

As TATU de Gaia

Por falar em costumes, as duas raparigas que andaram às beijocas numa escola de Gaia mereceram reprimenda, reprovação das entidades escolares locais e a associação velada com o «mau aproveitamento escolar» das envolvidas. Lê-se nos jornais, lê-se nos blogues. Em primeiro lugar não me parece que se trate de nenhum caso de reivindicação LGBT, embora este pessoal aproveite todo o espaço para se coçar. Trata-se de duas miúdas que se beijaram, namoradas ou não pouco importa, a descoberta da sexualidade vai mudando e já se faz entre pessoas do mesmo sexo, como provavelmente sempre se fez, agora talvez com menos segredo e com a ajuda da publicidade cool do estilo de vida, ou de foda, alternativo. Trata-se de um caso de puritanismo atrasado e ignorante das entidades e da comunidade. Mas em geral, a questão do «exibicionismo» tem uma certa razão de ser. Não me parece muito razoável que alguém tenha o direito de «chocar» outrém (não confundir com casos abundantes de adultos facilmente impressionáveis) para tentar fazer valer o seu estilo de comportamento, momentâneo ou não. Só que fazer soar o alarme é o pior caminho.

O país dos OTÁrios

A salvaguarda destes serões é um luxo excessivo. Mas percebe-se a ideia. A martelada no Dan Brown não sugere da minha parte nenhuma censura aos seus leitores. Estava bem arranjado se optasse por não liberalizar os passatempos e tempinhos culturais que os outros se atribuem a si próprios. Convenhamos, este é o país da Ota. Um país de erros grandes. Tudo bem Marisa, a carta astral. Mas agora vamos aqui ensaiar uma outra liberalização, a dos costumes, é a minha contrapartida.

terça-feira, novembro 22, 2005

Dan Brown

Olhar de longe pode não terminar em nenhuma conclusão digna. Um homem tem que se juntar à festa. Em todas as festas há que saber dançar a pior das músicas. O Código da Vinci, eis-me em aborrecida partilha com o menos explorador dos meus parecidos.

Ninguém explica porque gosta desses volumes em série das estantes mais à mão, onde já número elevado de escritores procura socorrer-se como fórmula. É dito serem leituras «viciantes», talvez ainda se descubra no psiquismo receptores próprios para Dan Brown e seguidores, quem sabe, preencham falhas importantes nas emoções menos experimentadas de cada um... Nestes livros, o tipo de construção narrativa é fulcral e mesmo exemplar. Mas é exactamente por esta razão que não fomentam o prazer generalizado de ler, procuram agarrar o leitor a uma técnica descritiva hierárquica que o leitor sabe que domina. A cena seguinte tem interligação com uma complicação anterior e assim modo sucessivo. O autor joga pazadas de informação sobre informação enumerada, coloca-a em estratos que isolados não valem nada e que em conjunto servem apenas o mesmo tipo de gosto que também é satisfeito quando se encontra a saída de um labirinto na última página do jornal popular. Todo o tempo é enchido com muito suspense. É um livro repleto de espaço vazio e muito «ambiente». É por isso que só faz sentido depois de lido num ápice, altura em que se esfuma porque não tem continuação na página seguinte que é a vida da pessoa. Explica-se: na verdade eu sou um merdas comparado com o Dostoievski. Sou um anormal ao lado do Thomas Mann. Mais: sou um pedaço de matéria frouxa comparado com o Gabriel García Márques e a sua virgem feita putinha. O Dan Brown, não me lixem, estou à vontade para falar no assunto, não conheço ninguém para além de mim que dê conversa aos arrumadores de carros. Voltando. A visão do livro como obra singular e estilo pessoalíssimo é substituída por uma única seita que segrega o mesmo tipo de conclusão. O de comprar uma próxima edição, livro de diálogos sem fim e gosto já familiar. O que é dado com Dan Brown são doses de leitura massiva que não sugere uma disposição sistemática para procurar o romance oriundo de cultura literária distinta com modos irrepetíveis de lançar pontes para a realidade. O livro não pode ser visto como um fim em si mesmo mas como um meio usado vezes sem conta. Este tipo de livros só ganha leitores para si próprios porque a expectativa de alguém pegar em Graham Greene depois do Código é escassa. Dan Brown é um analfabeto com sentido de oportunidade. Arranjou uma ideia-embuste que julgou apelativa para encher papel. Não sabe que um livro deve recriar a vida e a morte, o amor e o ódio, o desejo e o sofrimento através de um estilo particular que deixe entrever uma personalidade. E não é fácil fazê-lo.

O post a sério vem a seguir

A noite, uma segunda-feira, não é necessário acrescentar mais nada, fui só ali beber uma imperial verde e estou de volta. Já agora faço mais um linque para o Francisco José Viegas, que se for preciso cá estou.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Como eu citava mais ali e para não me alongar demasiado...

...o drama sacro, o austero, o piegas, a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias, um pandemonium, alma sensível, uma barafunda de cousas e pessoas...

Memórias Póstumas de qualquer gajo de bem.

Mais uma destas e voto mesmo Cavaco

A piada que me esqueci de dizer ao Rui no fim de semana...

...porque no seu post (a propósito do Iraque) citou Cavaco Silva e fez-me lembrar quando o Louçã citou o falecido Papa a despropósito de qualquer coisa...

sexta-feira, novembro 18, 2005

Dito e comentado

Na TVI, durante a entrevista com aquela senhora que parece um homem, Cavaco Silva disse, a propósito da famigerada guerra do Iraque: «Manifestei-me sobre isso na televisão, disse que considerava que uma intervenção a favor da paz e da segurança internacional devia ser feita sob a égide das Nações Unidas. Manifestei estranheza pela falta de tacto da diplomacia americana».
A direita portuguesa remete-se ao mais profundo dos silêncios.

Que não era por causa das armas de destruição massiva.
Que era para “impor” ou “criar” a democracia no Iraque.

Há tortura no Iraque.
Houve utilização de armas químicas.

O Pentágono, sobre o fósforo branco: "Nós utilizámo-lo como arma incendiária contra combatentes inimigos". “Combatentes inimigos” é a expressão que eles inventaram para não utilizar nenhum dos conceitos empregues pelas convenções da Haia e de Genebra sobre direito da guerra. O Governo americano diz que não assinou a convenção internacional que considera o fósforo branco ilegal, por isso pode dizer, impunemente que: "O fósforo branco é uma arma convencional. Não é uma arma química".

O referendo sobre a Constituição foi um sucesso mas reflectiu a divisão étnica do país.

Que era para pacificar a região.

Que era para acabar com o terrorismo.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Bloquívoco

No outro dia entrei no blogue de uma pessoa e quando acabei de ler o primeiro post julgava que estava a ler no blogue de outra. Só depois de subir na página é que percebi o meu desejo, à guisa de desatenção.

Ouvido e pensado

Um tuno na Antena 3: “Andamos nesta vida... a trazer a tradição académica para Lisboa”.
Reparem: “a trazer”. Se estão “a trazer”, é porque ela não existia cá por baixo. Felizmente. Foi o que eu sempre disse. Não se traz (no seu vocabulário imperfeito de tuno, o verbo trazer foi empregue como sinónimo de “implantar”) alguma coisa se ela já cá existisse.
Típico.
Primeiro o cliché: “andamos nesta vida”. O que é que ele queria: andar pela morte? Mas, por acaso, acho a ideia transmitida absolutamente exacta... é mesmo isso que os tunos fazem: andam pela vida. Não estudam. Não fazem nada de remotamente produtivo. Tirando, é claro, o contributo para a indústria têxtil (por causa dos trapos pretos), a metalúrgica (por causa dos ferrinhos), e para a cervejeira (porque alguém vestido assim tem que beber muito álcool para se sentir bem consigo próprio).
Depois a afirmação, mais ou menos resignada, daquilo que o pobre pensa ser alguma espécie de missão ou supremo sentido da sua vida: trazer a tradição académica para Lisboa.
Sim. Era mesmo só o que faltava cá em Lisboa, a tradição académica...
O tuno acrescenta: “tuno uma vez, tuno para o resto da vida”.
Ou seja, não há cura conhecida. É um bicho que, uma vez dentro do organismo, já não sai.
Apelo por isso à industria farmacêutica: tentem encontrar uma cura por favor.
Antes que eles “tragam” a tradição académica para Lisboa.

Elizabethtown

Não tem a ver com cinema. Tem a ver com a vida. Não me interessa muito o início de uma relação amorosa. É fantástico para os próprios, no pior dos casos será uma ilusão boa. De igual forma o fim também não apetece como tema. Muita emoção exagerada, isto se alguma coisa existiu de importante entre o casal, para cair na indiferença – ou na amizade - num prazo não tão longínquo. O sofrimento da perda é importante do ponto de vista da saúde psíquica, se ultrapassa, como ultrapassa. Mas é a retrospectiva dos dias passados entre felicidade e desencontro, é o desenrolar da relação, o tempo intermédio, é nessa altura que o bom e o mau, o certo e o errado acontecem, mesmo que os envolvidos não se apercebam de imediato. E agora chega disto.
Elizabethtown é um filme de estado civil. Demasiado feito para solteiros sonharem. Pior só mesmo o Before Sunset e a activista que delirava ao saber que na Polónia não havia cartazes publicitários.. . O filme vê-se mas torna-se aborrecido. O rapaz quer suicidar-se. O telefone toca. O pai morreu de ataque cardíaco. Fica para depois. Aparece uma rapariga caída do céu, e que por acaso também lá trabalha, para salvar o coração e a vida do rapaz. Os acontecimentos na cidade pequena sucedem-se e o rapaz levita todo o filme. Falam ao telefone durante horas, «ao telefone é melhor» diz ela, mas sabe que não, também tive uma cena antológica destas aí nos meus 17 anos, madrugada toda, a perguntar por exemplo «...e como é que é a tua disposição do quarto? tem janela? Sim, oh como te amo por teres a cabeçeira da cama voltada para Norte...» O rapaz demora muito a chorar pelo pai, quando chora, não se sabe se afinal ri. Fá-lo dentro do carro, em viagem pensada pelo anjinho que o leva amestrado até ela. Os anjinhos são do pior. As cinzas do pai vão no banco do pendura num daqueles vasos de que não me lembro o nome. Faz lembrar um conto de Lorrie Moore em que uma filha de consciência pesada ao transportar as cinzas da mãe, também de carro e também no banco do lado, para um lugar decidido em vida, depois de ter um acidente e após recuperar os sentidos levanta-se a cuspir no chão a cinza espalhada... Mera coincidência espero eu. A viagem do Drew é o melhor do filme junto com as paragens que faz junto com a música que ouve. Deste filme há a destacar a banda sonora que é aquilo que sopra alma no filme. A ideia do fracasso e do fiasco também está muito bem. Depois prefiro mil vezes a Kirsten Dunst das Virgens Suicidas. Mas neste filme ela é mais fotogénica do que actriz. O problema é também o papel dela. Não gosto muito de freaks. Isto não tem de novo a ver com cinema.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Pergunta

Se houvesse um atentado durante o Rock in Rio (porquê “in Rio”, estaremos porventura no Rio de Janeiro?) Lisboa II (a vingança) em virtude do qual desaparecessem os Xutos, a Ivete e outros que tais, qual seria a mensagem deixada pelo grupo terrorista?


Resposta: Por um mundo melhor.

terça-feira, novembro 15, 2005

O bacalhau e a galinha

Os (pseudo) liberais portugueses são as pessoas mais utópicas que conheço… para além disso pensam (coitados) que ser liberal é sinónimo de ser daquilo que se convencionou ser direita.
Não podiam estar mais enganados… Se olharem para o lado de lá do Atlântico, os liberais sempre foram conotados com a esquerda. Daí a queixa dos fanáticos evangélicos contra os “liberal media”. Se olharem para o lado de cá do Atlântico e souberem um bocadinho de história (ah, a história… é a basezinha, a história) saberão que os liberais foram os antepassados dos trabalhistas no sistema britânico de governo.
Ser liberal não é necessariamente sinónimo de ser de direita, o que revela, à partida, que os, insisto, pseudo liberais portugueses, não fazem ideia do que se estão a chamar a si mesmos…
Mas há mais:
Os, repete-se, pseudo liberais portugueses criticam a esquerda por ser idealista e hipócrita e pseudo intelectual.
Os pseudo liberais acusam alguém de ser pseudo alguma coisa…
Os senhores que acreditam que o mercado, só o mercado ou o mercado com um bocadinho de Estado, seria capaz de resolver todos os problemas do país…
Depois a esquerda é que é idealista…
Os liberais querem reformar o Estado e acham que com uma nova Constituição (sem conhecer, muitos deles, sequer a que temos) tudo estaria bem, no melhor dos mundos.
Depois a esquerda é que é idealista…
Acham que o problema está nos sindicatos, que os nossos empresários estão acima de qualquer suspeita…
Depois a esquerda é que é idealista…
O problema é que muitos deles, por baixo da capa do liberalismo, são profundamente conservadores… o que é uma contradição nos seus próprios termos.
Outros, intitulando-se liberais, dizem ser de direita, ou seja, defendem, ao mesmo tempo, a liberalização da sociedade e, ao mesmo tempo, o conservadorismo.
Em ambos os casos, depois a esquerda é que é hipócrita…
Não se pode ser, ao mesmo tempo liberal e conservador… é o mesmo que ser um bacalhau e uma galinha ao mesmo tempo.

Jesus está vivo! Aleluia!

Se Jesus está vivo, o problema é dele. O gajo que venha cá e que se mostre. Se for preciso, pago-lhe o bilhete de autocarro. Agora andarem por aí só uns beatos à chuva a tentar evangelizar Lisboa... e a impedir o trânsito em todas as artérias centrais fazendo com que pessoas que têm mais que fazer do que andar com velas a perseguir uma boneca de loiça de chegar a horas ao cinema, isso é que não está com nada...
E depois umas pessoas estranhíssimas, de cachecol de cores garridas a andar por aí a perguntar: como é que havemos de convencer estes papalvos a ir à missa ao Domingo?
Reafirmo: há pessoas que têm demasiado tempo livre...

Pulo do Lobo

De um lado temos o impagável Super-Mário. Do outro o Super-Cavaco. Depois existe o Pulo do Lobo. Um blogue que pela sua qualidade acaba por valorizar o candidato apoiado, no caso Cavaco Silva. A propósito queria fazer-lhe o elogio em entrevista à medonha Constança Cunha e Sá. Também queria dizer que Mário Soares andou no Minho a distribuir cumprimentos nas feiras, enquanto Manuel Alegre foi a uma escola falar sobre Educação. Mas entretanto lembrei-me do Alentejo.

Ao contrário da Terra toda, em Portugal o Norte é mais bonito que o Sul. Mas é a diversidade de paisagens num território reduzido que representa um trunfo importante. No topo dos esquecimentos temos a costa alentejana (quase só ao alcançe do explorador) e o Guadiana (que bem merecia uma intervenção qualitativa), o resto é planície, e daqui a uns anos apenas deserto. Não seria mau que as ruínas, castelos, minas, vilas inteiras, tradições, fossem tratados como património histórico e cultural e englobados no grande futuro português que dizem ser o turismo, não resumido aos pacotes de férias de toalha na areia. Uma vez parti do pobre e desertificado Algarve interior. Saí da paz de Alcoutim até à não menos pacífica Mértola, onde retomada a viagem rumo a norte, segui por um caminho de terra batida ao Pulo do Lobo. Local belíssimo onde o Guadiana se aperta entre rochedos que obrigam o curso do rio a correr em cascata. Não me importei de percorrer os quilómetros de terra e buracos. Antes desconhecido que destruído. Um ponto de interesse turístico do mesmo Alentejo abandonado ao azar de campos de golfe, reservas de caça, barragens e «reservas turísticas». A criação de emprego ligado ao património local e mundo rural (parece que a agricultura só é uma aposta para estrangeiros loucos) devia ser uma prioridade. Já não peço outro tipo de dinamismo menos óbvio.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Seguido de dedicatória

Daqui bocado ainda passo no Cacém. Os meus Nike por uma lata de petróleo. Estou a ficar desesperado. Hoje acordei fui para a esquina do costume e senti-me marginalizado. Lá estava eu, com os meus irmãos, um joelho flectido, a outra perna esticada, cabeça pendente, estás a olhar? As pessoas passavam por mim e fingiam-se de apressados, disfarçavam a olhar para o relógio. Eu levanto-me e fico no sol, quando não vou ao serviço de estrangeiros, à segurança social, ou oscilar os ombros para os comboios da linha do Monte Abraão. Esta sociedade exclui-me. Qual é a cena, preencho papéis mas não tenho um apoio, um subsídio, um rendimento, um animador sócio-cultural que seja. Sócio anda daí fazer uma roda e bater as palmas. Esta sociedade está muito ocupada, eu estou aqui quieto, mas sou igual, tenho o mesmo direito de frequentar o Colombo, sim mandar um bocado de estilo. Quero uma cena. Aí sou obrigado a ir ter com a sociedade. À força. Não sei onde há trabalho, daqui não vejo nada. Mas há um pessoal da política que está comigo, percebem a minha vida. Um gajo é desempregado, um gajo é diferente, mas tem direitos. Não quero estar à parte mas foda-se estou bem aqui. Caga nisso. O Louçã sabe. Ele defende-me na televisão. A minha mãe entrou às seis da manhã na Mundilimpa. Trabalha muito. Estou de mãos atadas, agora estão dentro dos bolsos, Novembro vai frio. Não sei. Não quero ter a vida dela. Sim, na boa. Ver o que dá. Cacém é que era, burgesotes com carro à porta. Pensam ser mais que eu. Ainda hão-de ver as chamas na TV. Foda-se. Lindo.

Dedicado à grande maioria de aventureiros em terra estranha, que mesmo partindo de uma desvantagem cultural, lutam todos os dias por uma vida melhor.

quinta-feira, novembro 10, 2005




Why Immigrants Don't Riot Here
France's rigid economic system sustains privilege and inspires resentment.


Do autor do Livro The City: A Global History no Wall Street Journal.

Miminhos

Parece a conta que deus fez. Em três ocasiões distintas, três pessoas diferentes colaram-me três classificativos parecidos. O primeiro, começando em grande, foi lançado com um certo ódio de estimação. Pedi desculpa e calei-me. O segundo envolveu o melhor estilo provocatório. Calei-me e actuei na primeira oportunidade. O terceiro, mais recente, foi deixado com uma certa indiferença. A hierarquia da acusação tem vindo a adoçar-se, se o posso dizer. Da primeira vez não tive culpa absolutamente nenhuma, apenas gosto de me explicar pouco e deixei o equívoco passar. Da última, até o mais inexperiente juíz perceberia que existiu premeditação. Mas só me forniquei a mim próprio, situação onde existe uma importância não mais que passageira.

Mudança

Longe vai o tempo da agonia amorosa. Quando em vez de amar lia Proust em pensamento alto. Dois volumes e meio foi quanto durou o desgosto. Percebi o acerto da escolha quando tomei conhecimento de um filme intitulado: How Proust Can Change Your Life.

Ao tempo que eu já não citava nada longo, longo

Capítulo XXXIV
A uma alma sensível
Há aí, entre as cinco ou dez pessoas que me lêem, há aí uma alma sensível, que está decerto um tanto agastada com o capítulo anterior, começa a tremer pela sorte de Eugênia, e talvez... sim, talvez, lá no fundo de si mesma, me chame cínico. Eu cínico, alma sensível? Pela coxa de Diana! esta injúria merecia ser lavada com sangue, se o sangue lavasse alguma cousa nesse mundo. Não, alma sensível, eu não sou cínico, eu fui homem; meu cérebro foi um tablado em que se deram peças de todo gênero, o drama sacro, o austero, o piegas, a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias, um pandemonium, alma sensível, uma barafunda de cousas e pessoas, em que podias ver tudo, desde a rosa de Smirna até a arruda do teu quintal, desde o magnífico leito de Cleópatra até o recanto da praia em que o mendigo tirita o sono. Cruzavam-se nele pensamentos de vária casta e feição. Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo. Retira, pois, a expressão, alma sensível, castiga os nervos, limpa os óculos - que isso às vezes é dos óculos - e acabemos de uma vez com esta flor da moita.
Memórias Póstumas de Brás Cubas: Machado de Assis.

...

terça-feira, novembro 08, 2005

Lisboa, a cidade que dorme

O lamentável episódio com The Gift à porta do Budha Bar e as filas intermináveis que antecedem a porta do Lux ao fim de semana, são duas faces da mesma mentalidade pouco atenta e vão mostrando porque a noite de Lisboa está cada vez mais afunilada e pouco imaginativa tanto da parte de quem sai, como da parte de quem gere e não oferece alternativas consistentes, isto quando elas existem. Falo do costume. Bares com muitos lugares sentados a passar o tipo de música que ouvimos no CD do carro, bons espaços de vocação multi-área disseminados à volta de Lisboa para que haja a hipótese da não vinda para Lisboa com todos os custos que isso acarreta (começando pelo uso do automóvel), utilização de espaços públicos como locais de convívio (praças, avenidas, largos), discotecas com decoração decente onde as pessoas não tenham medo de ir «por ficar mal» e onde não se ande ao engate antes das 4 da manhã, opções durante a semana porque nem toda a gente madruga no dia seguinte, bares de música ao vivo com agenda própria, festas temáticas, festas patrocinadas, festas e pessoas que gostem de dançar, etc. Uma ideia sistemática de noite e não um isolado copo entornado. Isto se aceitamos uma tentativa mais cosmopolita de cidade...

segunda-feira, novembro 07, 2005



Não confundir. Existem estados de espírito que potenciam a simpatia que podemos sentir. Se este fim de semana tivesse sido composto por dois, bem menos hesitantes, dias de geral amenidade talvez este filme (e a sua bela acompanhante banda sonora) não continuasse a pairar entre um duche, umas palavras, ou um reencontro.



Nesse caso diria «é bom» e as horas seguintes haveriam de ser retomadas por sucessões de abandonos rotineiros. Gosto que algo se mantenha para lá da sua presença.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Sinais de fogo

A propósito dos tumultos nos arredores de Paris, escreve Pacheco Pereira:

«Basta haver um ar de revolta social contra o “sistema”, um ar de “multiculturalismo” revolucionário dos “deserdados da terra” contra os ricos (os que têm carro, os pequenos lojistas, os stands de automóveis, os pequenos comércios), para a velha complacência face à violência vir ao de cima. Fossem neo-nazis os autores dos tumultos e a pátria e a civilização ficavam em perigo, mas como são jovens muçulmanos da banlieue, já podem partir tudo. Não são vândalos, são “jovens" reagindo à “violência policial”, são “vítimas” do desemprego e do racismo dos franceses, justificados na sua "revolta", e têm que ser tratados com luvas verbais e delicadeza politicamente correcta. Os maus são as forças da ordem, os governantes, os polícias, os bombeiros e todos os que mostram uma curiosidade indevida pelos seus bairros de território libertado.No fundo, não é novidade nenhuma. Há muitos anos que é assim, que estas questões são tratadas com imensa vénia, não vão os “jovens” zangarem-se e vingarem-se. A culpa é nossa, não é?»
Cheio de razão Pacheco Pereira. É o resultado das fantasias de acolhimento falso-dialogante das respeitáveis minorias, do «um imigrante, um amigo». São os mesmos que se insurgem contra os EUA, quando são o melhor exemplo de «multiculturalismo», os mesmos parvoinhos anti-guerra, que anti-guerra somos todos mas não a qualquer custo. Lá no fundo lamentam bastante que seja a França o palco do embate nada menos que criminoso. A mesma França entronizada como o país mais hipócrita da Europa. Mas desejam sobretudo que o vandalismo chegue a Londres ou Berlim, pena para eles que a intelectualidade autista francesa seja a mais refutada. A culpa é de quem trata os auto-excluídos como inimputáveis. A segunda geração de imigrantes, porque é dela que se trata, encontra no discurso desculpabilizador um filão que vai explorando.

Foto por Jannica Honey

Depois também existem aquelas fotografias em que dá para não ter pressa e olhar uns minutos, nem é um recreio é uma sala de brincar. Olhando as crianças por mero desfastio sabe-se que são o que querem e comportam exagerados o que dá-de ficar mais tarde deitado ao abandono. Os únicos super-heróis estão nas salas de brincar e eu também gostei muito de brinquedos. Já a rapariga não me parece que seja muito dada a jogos ou liberdades parecidas. Apenas na cabeça dela tentou quase de tudo. Na altura certa o corpo é mais veloz a decidir. Só ele sabe no que é experimentado. Ela vai-se deixando ficar. Pode ser que ainda entre alguém a correr.

E mais uma coisa

A melhor blogosfera tem trinta e poucos anos. É a que dá mais gozo. Não tentam parecer que são sérios nem forçam temas, usam ironia, escrevem solto, falam de relações, de sexo, de homens, mulheres, dizem umas tantas verdades, falam de amor, aceitam. Sabem o que ler o que ver e o que dizer. Importam-se com o que conta. Estão a meio caminho. A experiência chegou ao ponto de ser transformada. Aproveitam para se movimentar. Talvez estejam impulsionados pelo receio do declínio próximo. Este meu elogio é demasiado generalizado. Deixo ficar assim.

Football Manager

Venci a Super Liga com o Nacional da Madeira. Primeiro lugar a muitos pontos. Fui buscar o Alex a custo zero ao Sporting da Covilhã (agora está avaliado em cinco milhões de euros), o miúdo é o maior a liderar o meio campo. Sou um treinador realizado. Mas isto tem uma razão premeditada. Aguardo ansiosamente a homenagem do Alberto João. Quando me quiser apertar a mão mando-o plantar bananeiras e antes de lhe virar costas mostro-lhe o dedo do meio como ele fez naquela foto que o Tal & Qual tem nos arquivos.

quinta-feira, novembro 03, 2005

MTV - Os nomeados (actualizado)



The Gitf, repito o grupo português com mais qualidade, com a publicidade merecida, Skakira (um doce, um doce), Gwen Stefani, 50 Cent (Candy Shop a obra-maestra), Black Eyed Peas (seja o que for), System of a Down (seja o que for), I need you to believe in something, I need you to believe in something, I need you to believe in something, Chemical Brothers o tempo todo, o Robbie Williams que tudo isto é espectáculo e quanto mais ritmado, sexy, iluminado e colorido for, tanto mais plenamente o objectivo é alcançado. Mais um grande evento passou por Lisboa esta quinta-feira.