Paulo Gorjão no Bloguitica:
"«[C]onvém ter na Chefia do Estado alguém que conheça a História e a cultura do nosso país, alguém que conheça Os Lusíadas, o nosso poema máximo», referiu Mário Soares (DN, 21.11.2005).
1. Leu o artigo de Vítor Bento? [D.E.]
2. Alguém consegue explicar qual é a razão objectiva que impõe a obrigatoriedade de ter alguém na Presidência da República que conheça Os Lusíadas? A Ilíada?
3. Cavaco Silva come bolo rei com a boca aberta. Cavaco Silva não leu as obras clássicas. Já todos percebemos que, tal como a maioria dos portugueses, Cavaco Silva não nasceu num berço de ouro. É a vida. E não tendo nascido num berço de ouro -- i.e. não sendo descendente da casta aristocrática preparada para nos governar -- como é que ele ousa usurpar o trono ao seu legítimo herdeiro? Em suma, como é que um reles provinciano de Boliqueime, que subiu na vida à custa do seu próprio esforço (imagine-se, tamanha ousadia...!), admite candidatar-se à Presidência da República?
4. Esta arrogância cultural é um assunto que me toca pessoalmente. Tal como no caso de Cavaco Silva, os meus pais também são pessoas modestas. Na minha infância não aprendi a tocar piano, nem fui estimulado a ler os clássicos. Inevitavelmente, ou talvez não, fui um aluno mediano no secundário. Sem ter alcançado as médias de acesso ao ensino superior público, ingressei no ensino superior privado, por pressão dos meus pais. Foi apenas nessa altura que adquiri o gosto pelo estudo e que me esforcei por ser acima da média em alguma coisa. Passei muitas noites a estudar e li centenas de livros técnicos (e não os clássicos...). Paralelamente, fiz muitas directas para ajudar os meus pais na sua actividade profissional. Por outras palavras, aquilo que alcancei até hoje não o devo ao meu apelido sonante, ou às minhas origens sociais privilegiadas. Ocasionalmente, sou capaz de começar a falar quando ainda tenho comida na boca e, eventualmente, sou capaz de colocar os cotovelos em cima da mesa. Horror dos horrores, sou capaz de fazer coisas ainda piores. Nunca li Os Lusíadas de uma ponta à outra. Tenho conhecimentos muito rudimentares sobre música clássica e não percebo absolutamente nada de poesia. Tudo isto significa que não posso ascender socialmente em Portugal? Que não vou ser tolerado pela elite aristocrática e que nunca poderei vir a ser Primeiro-Ministro ou Presidente da República? Não acha que há aqui qualquer coisa profundamente errada?
5. Leu o artigo de Vítor Bento? "[D.E.]
Desta vez o linque não chegava, prefiro o texto todo. Originalmente publicado no Bloguitica [post 1396].
1. Leu o artigo de Vítor Bento? [D.E.]
2. Alguém consegue explicar qual é a razão objectiva que impõe a obrigatoriedade de ter alguém na Presidência da República que conheça Os Lusíadas? A Ilíada?
3. Cavaco Silva come bolo rei com a boca aberta. Cavaco Silva não leu as obras clássicas. Já todos percebemos que, tal como a maioria dos portugueses, Cavaco Silva não nasceu num berço de ouro. É a vida. E não tendo nascido num berço de ouro -- i.e. não sendo descendente da casta aristocrática preparada para nos governar -- como é que ele ousa usurpar o trono ao seu legítimo herdeiro? Em suma, como é que um reles provinciano de Boliqueime, que subiu na vida à custa do seu próprio esforço (imagine-se, tamanha ousadia...!), admite candidatar-se à Presidência da República?
4. Esta arrogância cultural é um assunto que me toca pessoalmente. Tal como no caso de Cavaco Silva, os meus pais também são pessoas modestas. Na minha infância não aprendi a tocar piano, nem fui estimulado a ler os clássicos. Inevitavelmente, ou talvez não, fui um aluno mediano no secundário. Sem ter alcançado as médias de acesso ao ensino superior público, ingressei no ensino superior privado, por pressão dos meus pais. Foi apenas nessa altura que adquiri o gosto pelo estudo e que me esforcei por ser acima da média em alguma coisa. Passei muitas noites a estudar e li centenas de livros técnicos (e não os clássicos...). Paralelamente, fiz muitas directas para ajudar os meus pais na sua actividade profissional. Por outras palavras, aquilo que alcancei até hoje não o devo ao meu apelido sonante, ou às minhas origens sociais privilegiadas. Ocasionalmente, sou capaz de começar a falar quando ainda tenho comida na boca e, eventualmente, sou capaz de colocar os cotovelos em cima da mesa. Horror dos horrores, sou capaz de fazer coisas ainda piores. Nunca li Os Lusíadas de uma ponta à outra. Tenho conhecimentos muito rudimentares sobre música clássica e não percebo absolutamente nada de poesia. Tudo isto significa que não posso ascender socialmente em Portugal? Que não vou ser tolerado pela elite aristocrática e que nunca poderei vir a ser Primeiro-Ministro ou Presidente da República? Não acha que há aqui qualquer coisa profundamente errada?
5. Leu o artigo de Vítor Bento? "[D.E.]
Desta vez o linque não chegava, prefiro o texto todo. Originalmente publicado no Bloguitica [post 1396].
1 Comments:
Caro Samuel acho este post de uma demagogia arrepiante, para além do mais revela um problema narcísico do próprio autor do Bloguitica que por traansferência se identifica com Cavaco. No fundo o que o autor me diz é Cavaco tem de ser presidente porque é de origem humilde e assim tenho esperança de também eu ser algo na vida, tenho esperança que não me sinta inferior por isso. Esse é um mecanismo de identificação projectiva que pode ser que funcione e que, infelizmente, leve Cavaco à presidência. Pois é, como diz o Edgar (e bem), coitadinho do Cavaco não é politico, não é rico, é de origem humilde (como isso significasse alguma coisa),não sabe comer de boca fechada vamos lá votar nele. Por favor poupem-me!
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