quinta-feira, setembro 30, 2004

O pagode

É um bocado deprimente a forma como os blogs de direita muitas vezes se limitam a dizer mal da esquerda. Será que a direita e o seu ideário são de tal forma vazios de ideias novas (não se esqueçam que os actuais liberais são neoliberais, não estão a dizer nada que um economista de há dois séculos atraz não diria) que não conseguem escrever nada que não seja a gozar com o BE? É que se vamos começar a contar as entradas para o anedotário nacional... este governo já vai bem lançado. Depois é a esquerda que só diz mal e não é construtiva... ao menos sabe mais ou menos o que quer, não é propriamente como um certo Primeiro. É isto, afinal não é, talvez seja, está em estudo, pode ser que sim, pode ser que não, não sei, o que é que acha que fica melhor para as sondagens? Isto de governar é muito cansativo... é melhor é começar a pensar no que é que vou vestir para ir à gala da Kapital mirar umas pitas...

quarta-feira, setembro 29, 2004

"A sua identificação por favor?"

Irrita-me solenemente que agora seja moda ter um segurança à porta de tudo o que seja prédiozinho de escritórios a pedir a identificação e a tomar nota dos nossos nomes e numeros de BI. Para quê? Alguém é capaz de me dar uma explicação racional e que justifique economicamente a perda de tempo que isso acarreta? É para ver se eu sou ladrão? Ou terrorista? E o que é que eu ia roubar num edificio de escritórios? Agrafadores? E será que o segurança, que ás vezes nem se digna a levantar a fronha do jornal desportivo, ia depois identificar com toda a certeza de uma folha com centenas de nomes e numeros de BI o meu (se eventualmene eu tiver roubado o tal agrafador e talvez alguns clips)? Do género: "sim é este, eu desconfiei logo do nome dele". E já ouviram falar em BI's falsos? Acham que eu sou o quê? Um ladrão burro? É que podem desconfiar da minha honestidade, mas não admito que questionem a minha inteligência... E o pior é quando, ainda por cima, usam o diminutivo: "A sua identificaçãozinha", mas porquê o diminutivo? Acha que a minha identidade é pequena? Ou será o meu BI que é small?
Sim, e se eu fosse um terrorista com uma bomba incendiária decidido a explodir o edificio, a unica coisa que sobreviveria era a folhinha com o meu nome... E se calhar eles têm uma ligação à Interpol e vêm logo se eu sou procurado pelas autoridades... ou então, não.
E o que é que acontece a todos os milhares de folhas preenchidas todos os dias em milhares de edificios? Será que existe um Big Brother desconhecido que controla as nossas entradas em edificios de escritórios? E para quê? Será que se passa algo nesses edificios que nós desconhecemos e eles precisam de ganhar tempo para esconder tudo debaixo das secretárias e por isso pedir a identificação é uma forma de ganhar tempo? E o que é que se passará?
Meu Deus, tantas perguntas por responder...

segunda-feira, setembro 27, 2004

Fumos fiscais

Não sou fumador. Mais, o meu pai teve um grave problema de saúde devido ao tabaco. No entanto e apesar disto não posso de forma alguma concordar com o aumento do imposto sobre o tabaco. Lamento estragar a unanimidade mas incomoda-me que o Estado se aproveite de um vício para engordar os impostos. O imposto especial de consumo (IEC) que incide sobre o tabaco é considerado, tal como o que incide sobre o álcool ou o jogo uma espécie de “imposto sobre o pecado” uma vez que afectam hábitos sociais que são considerados negativos. Assim os impostos são olhados como politicamente correctos e a anestesia fiscal é muito mais forte nestes casos. É rara a pessoa que protesta ou os vê como injustos. Para além disso são bens cuja procura é muito rígida. Parecem portanto perfeitos. Mas na verdade o caminho para a consolidação orçamental é o combate à evasão fiscal, não o aumento da carga tributária. Desde logo porque o aumento da taxação só vai contribuir para o aumento e consolidação de mercados negros (por vezes vistos pela população como justos para escapar à carga fiscal excessiva). Mas também, e principalmente, porque não me parece moral o Estado aproveitar-se de um vício para enriquecer. Ainda por cima com um imposto “cego” aos rendimentos (ou só os ricos é que podem fumar?). O Estado é uma pessoa de bem, deve fazer campanhas para fortalecer a saúde pública, mas não se deve aproveitar de vícios.
Acho eu, não sei.

O Ivan num copo de água

Enquanto eu cometer estes erros, tiver estas distrações, baralhar as prioridades, nunca poderei considerar-me dono e senhor da minha existência. E tomar esse rumo, o da paternidade dos actos próprios, parece-me a partir de certa idade um sério objectivo a perseguir, para bem de um percurso exultado. A questão é que ainda subsistem nestes meus tão coloridos dias actos orfãos, responsabilidades alheias, atribuíveis não sei bem a que ou a quem. Identifico percas onde só deveriam existir ganhos. Sabem disso. Quem me mandou a mim não ter ido ver ao Indie o novo filme da jovem realizadora Lucrecia Martel La Ninã Santa? Mas o pior, como sempre, vem depois. Atolo-me na atitude desprezível de me contentar com o desejo fervoroso de que o filme, afinal, tenha sido mau, péssimo, aborrecido ou inútil. Se amanha encontrar alguém que tenha ido hoje ver o flme e me disser que "não foi nada de especial" vai ser essa a minha alegria. Que pequenez, que alegria doentia será essa? Sentir-me-ei melhor? Que doença será a minha?

Mais tempos

Por estes dias conheci um homem que propunha a calma, o vagar. Reparemos como ele ria. Aliás não ria, porque rir começa e acaba a um mesmo tempo. Sorria. Devo pedir rapidamente perdão - única ocasião em que a velocidade importa - pela minha constante pressa de que apesar de tudo sofro em doses fracas, residuais, e que mina desde o exterior um relato que interessa de forma pouco evidente. Isto porque ele não sorria só, isto é, de forma continuada e uniforme. A causa para essa execução da beleza - o sorriso - não a vamos identificar nem importa. Ele que se faça apresentar dessa forma agradável tantas vezes quantas a vida o motivar para tal, porque a nós isso basta. Devo explicar, eis a glória, que a partir do inicío da actividade dos inúmeros músculos faciais decorriam uns largos minutos até ao auge, ou seja, um completo e amplo sorriso franco e sem qualquer exuberância acessória. Um sorriso crescente formado à medida da enunciação das palavras, provocando-me um contínuo desfilar de imagens confortantes desencadeadas por aquelas pequenas alterações do rosto. Pensei que o homem devia estar a falar verdade, caso contrário o rosto dele pouco me comoveria. Passeio ao lado das subtilezas como se caminha na orla de um vale olhando à distância a beleza intacta, mas cavo com enérgica vontade o artíficio até o reduzir ao que restar, e resta sempre. Porque era homem dei-lhe a mão, mas se fosse mulher talvez a guardasse para a noite.

domingo, setembro 26, 2004

Publish

Desde Maio. Não consigo não escrever. Isto é uma coisa que se pode dizer. Sem grande relação com os factos. O calor revoluciona-nos os sentidos. Desde Maio. De repente deixa-se de escrever, com naturalidade outras intercessões cruzam o espaço e empurram a escrita para uma espécie de purgatório. Mas a penar fica o ex-escritor. Será que fica? Não que as porras do costume deixem de interessar, apenas se tornam menos urgentes ou coisa parecida, ou preguiça. Quando os dias são mais pequenos existe maior necessidade de ampliar porque a relação com o espaço detiora-se. Como? Como? Não penses mais nisso pá, vai dar um mergulho. Ou escreve umas tantas linhas e conforta-te. Alija carga. A alma expressa-se ou entrega-se ao prazer. Ou uma ou outro. Ou dá ou recebe. E das duas uma. Desde Maio que não escrevia, minto, não escrevia aqui na grande rede. A rede embala mas a folha e a caneta estão mais disseminadas. E até são surdas.