segunda-feira, setembro 27, 2004

Mais tempos

Por estes dias conheci um homem que propunha a calma, o vagar. Reparemos como ele ria. Aliás não ria, porque rir começa e acaba a um mesmo tempo. Sorria. Devo pedir rapidamente perdão - única ocasião em que a velocidade importa - pela minha constante pressa de que apesar de tudo sofro em doses fracas, residuais, e que mina desde o exterior um relato que interessa de forma pouco evidente. Isto porque ele não sorria só, isto é, de forma continuada e uniforme. A causa para essa execução da beleza - o sorriso - não a vamos identificar nem importa. Ele que se faça apresentar dessa forma agradável tantas vezes quantas a vida o motivar para tal, porque a nós isso basta. Devo explicar, eis a glória, que a partir do inicío da actividade dos inúmeros músculos faciais decorriam uns largos minutos até ao auge, ou seja, um completo e amplo sorriso franco e sem qualquer exuberância acessória. Um sorriso crescente formado à medida da enunciação das palavras, provocando-me um contínuo desfilar de imagens confortantes desencadeadas por aquelas pequenas alterações do rosto. Pensei que o homem devia estar a falar verdade, caso contrário o rosto dele pouco me comoveria. Passeio ao lado das subtilezas como se caminha na orla de um vale olhando à distância a beleza intacta, mas cavo com enérgica vontade o artíficio até o reduzir ao que restar, e resta sempre. Porque era homem dei-lhe a mão, mas se fosse mulher talvez a guardasse para a noite.