terça-feira, novembro 22, 2005

Dan Brown

Olhar de longe pode não terminar em nenhuma conclusão digna. Um homem tem que se juntar à festa. Em todas as festas há que saber dançar a pior das músicas. O Código da Vinci, eis-me em aborrecida partilha com o menos explorador dos meus parecidos.

Ninguém explica porque gosta desses volumes em série das estantes mais à mão, onde já número elevado de escritores procura socorrer-se como fórmula. É dito serem leituras «viciantes», talvez ainda se descubra no psiquismo receptores próprios para Dan Brown e seguidores, quem sabe, preencham falhas importantes nas emoções menos experimentadas de cada um... Nestes livros, o tipo de construção narrativa é fulcral e mesmo exemplar. Mas é exactamente por esta razão que não fomentam o prazer generalizado de ler, procuram agarrar o leitor a uma técnica descritiva hierárquica que o leitor sabe que domina. A cena seguinte tem interligação com uma complicação anterior e assim modo sucessivo. O autor joga pazadas de informação sobre informação enumerada, coloca-a em estratos que isolados não valem nada e que em conjunto servem apenas o mesmo tipo de gosto que também é satisfeito quando se encontra a saída de um labirinto na última página do jornal popular. Todo o tempo é enchido com muito suspense. É um livro repleto de espaço vazio e muito «ambiente». É por isso que só faz sentido depois de lido num ápice, altura em que se esfuma porque não tem continuação na página seguinte que é a vida da pessoa. Explica-se: na verdade eu sou um merdas comparado com o Dostoievski. Sou um anormal ao lado do Thomas Mann. Mais: sou um pedaço de matéria frouxa comparado com o Gabriel García Márques e a sua virgem feita putinha. O Dan Brown, não me lixem, estou à vontade para falar no assunto, não conheço ninguém para além de mim que dê conversa aos arrumadores de carros. Voltando. A visão do livro como obra singular e estilo pessoalíssimo é substituída por uma única seita que segrega o mesmo tipo de conclusão. O de comprar uma próxima edição, livro de diálogos sem fim e gosto já familiar. O que é dado com Dan Brown são doses de leitura massiva que não sugere uma disposição sistemática para procurar o romance oriundo de cultura literária distinta com modos irrepetíveis de lançar pontes para a realidade. O livro não pode ser visto como um fim em si mesmo mas como um meio usado vezes sem conta. Este tipo de livros só ganha leitores para si próprios porque a expectativa de alguém pegar em Graham Greene depois do Código é escassa. Dan Brown é um analfabeto com sentido de oportunidade. Arranjou uma ideia-embuste que julgou apelativa para encher papel. Não sabe que um livro deve recriar a vida e a morte, o amor e o ódio, o desejo e o sofrimento através de um estilo particular que deixe entrever uma personalidade. E não é fácil fazê-lo.

7 Comments:

Blogger MariaOnLine said...

Gosto destas reflexões a horas tardias. Que lê, no momento?

11/22/2005 10:19:00 da manhã  
Blogger JFC said...

Giruuuuuu! Gostas de donuts? ;-)

11/22/2005 03:22:00 da tarde  
Blogger Samuel said...

Gosto de donuts e de passarinhas também. Querias outra resposta? ;)

Maria: cada um lê o que quiser. É só curiosidade? Cá vai. Guy de Maupassant, Manuel Vásquez Montalbán e Graham Greene.

11/23/2005 01:32:00 da manhã  
Blogger MariaOnLine said...

Samuel, por obrigação já chega ter que lavar a loiça depois do jantar. A leitura, essa, que seja por gosto. É óbvio que cada um lê o que quer, como por exemplo eu, que leio o seu blogue neste momento. E em relação à sua curiosidade sobre a minha curiosidade: Na verdade nem achei que respondesse, foi uma pergunta feita em reflexo, como acender um cigarro depois do café. Mas, no entanto, não deixei de cá vir ver se tinha resposta, pensará você. E pensa bem. Eu pensaria assim, se estivesse no seu lugar. Mas isso sou eu, que tenho a mania que penso muito. E agora termino, embora até se esteja aqui bem, chá, tem? Não, então vou mesmo embora, primeiro porque o comentário (que não é bem um comentário, entenda-se) já vai longo e segundo porque sem chá não consigo dormir.

11/23/2005 02:45:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Aqui no 4aferida o visitante e sempre mto bem recebido. Pra mim pode ser uma green.

Edu.

11/23/2005 04:19:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

concordo que existem neste post fortes e válidos argumentos para que eu não leia esta afamada e polémica obra. No entanto, creio que para elaborar tão meticulosa e corpórea crítica, também o autor deste post deve ter lido o referido livro. Assim sendo vou lê-lo tal como estava programado, fazendo posteriormente a minha reflexão acerca do seu conteúdo.
Se há traço que não faz parte da minha personalidade é a caracteristica de «carneiro», se é que me faço entender.

Já agora Edu, prefiro uma frize limão, pode ser?!

MARTA

11/24/2005 04:58:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sai uma friz limap pra menina.

Edu.

11/24/2005 10:42:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home