Sinais de fogo
A propósito dos tumultos nos arredores de Paris, escreve Pacheco Pereira:
«Basta haver um ar de revolta social contra o “sistema”, um ar de “multiculturalismo” revolucionário dos “deserdados da terra” contra os ricos (os que têm carro, os pequenos lojistas, os stands de automóveis, os pequenos comércios), para a velha complacência face à violência vir ao de cima. Fossem neo-nazis os autores dos tumultos e a pátria e a civilização ficavam em perigo, mas como são jovens muçulmanos da banlieue, já podem partir tudo. Não são vândalos, são “jovens" reagindo à “violência policial”, são “vítimas” do desemprego e do racismo dos franceses, justificados na sua "revolta", e têm que ser tratados com luvas verbais e delicadeza politicamente correcta. Os maus são as forças da ordem, os governantes, os polícias, os bombeiros e todos os que mostram uma curiosidade indevida pelos seus bairros de território libertado.No fundo, não é novidade nenhuma. Há muitos anos que é assim, que estas questões são tratadas com imensa vénia, não vão os “jovens” zangarem-se e vingarem-se. A culpa é nossa, não é?»Cheio de razão Pacheco Pereira. É o resultado das fantasias de acolhimento falso-dialogante das respeitáveis minorias, do «um imigrante, um amigo». São os mesmos que se insurgem contra os EUA, quando são o melhor exemplo de «multiculturalismo», os mesmos parvoinhos anti-guerra, que anti-guerra somos todos mas não a qualquer custo. Lá no fundo lamentam bastante que seja a França o palco do embate nada menos que criminoso. A mesma França entronizada como o país mais hipócrita da Europa. Mas desejam sobretudo que o vandalismo chegue a Londres ou Berlim, pena para eles que a intelectualidade autista francesa seja a mais refutada. A culpa é de quem trata os auto-excluídos como inimputáveis. A segunda geração de imigrantes, porque é dela que se trata, encontra no discurso desculpabilizador um filão que vai explorando.
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