quinta-feira, dezembro 30, 2004

Um criador cria uma criação

Postei uma vez sobre os organizadores de eventos e uma outra sobre animadores culturais. Continuando na senda de profissões inventadas para os lados do fim do século passado por alguém que aparentemente nada mais tinha para fazer vou dar hoje um pequeno apontamento sobre os criativos.
Um criativo é por definição alguém que cria. Mas cria o quê? Não se sabe, aparentemente limita-se a criar o que lhe vem à cabeça. Mas reparem, não inventa, porque senão seria um inventor. Não iamos certamente inventar um outro nome para uma coisa que já existe só porque queremos um nome mais... alternativo? Fino? Ou iamos? É que se calhar o criador cria uma criação. Mas qual criação? A Criação de Deus somos nós, dizem os crentes (com ou sem tai-zé, ou só zé para os amigos) mas não deve ser isso. A criação do meu avô era uma série de galinhas e coelhos num barracão no canto do quintal. Se calhar é isso... pelo menos o nome bate certo... e sempre é alguma coisa que se come. Ou será que tem a ver com boa e má-criação? Será que são fulanos muito bem-criados. Ou alguém que dá aulas de etiqueta, género Paula Bobone (que disse uma vez que o seu pássaro preferido era a borboleta, descobrido assim uma inteira nova familia de pássaros). Se calhar é alguem que tem ideias, mas não temos todos? É que se estamos a falar de publicitários, eles já têm nome: publicitários. O mesmo para os designers, decoradores, etc...
É só que todos nós no nosso trabalho precisamos de ter ideias, mas nem todos somos creativos... qual será o segredo?

quarta-feira, dezembro 29, 2004





Directamente da Republica Checa: Hana Soukupova; e viva a geração de 80.
Vemo-nos para o ano.

A via sinuosa

Acabei de escrever uma coisa há dois momentos que há um momento resolvi apagar. Tratava deste ano 2004 no plano pessoal. A menos que se seja um génio, ou por outro lado muito leviano, acredito que acerca de certas experiências não se deve escrever algo parecido com uma totalidade. Sobre a beleza e a cicatriz destes últimos doze meses saberei em anos descendentes ganhar sempre. Nunca saí de um ano com um conjunto tão forte de impressões. Por cima de 2004 nunca escreverei nada que julgue parecido ou acabado. Anos futuros conservarão 2004 como património do mais valioso. Sou demasiado insignificante para o ano que tive.

Do essencial ao acessório

Aconselha-me uma parte da tua vida. Retira da sequência um fragmento para que seguindo-o reconheça o imperativo de nunca mais voltar. Sei bem o quanto gosto de vaguear numa direcção com retorno certo. Saber conciliar é animal de sete cabeças com o qual se tem que conviver de modo, senão umbilical, talvez um pouco parasitário. Prefiro ser culpado a estar vazio. Deve ser vício passageiro. É curioso que andei aqui a escrever umas coisas baseadas no «tu isto, tu aquilo», aliás começei estas linhas nesse tom falso-dialogante. Como se existisse algum interlocutor concreto. Como se julgasse adquirido um destinatário original. Como se alguma escuta particular me interessasse o minímo que fosse. Mas encontro por aqui exageros mais graves. A escrita sair-me muitas vezes na primeira pessoa é mera coincidência de factos. Sem relação com o que como ou que bebo. Típico desleixo. Um verdadeiro atentado à minha reputação. Chega-te perto. Tinhas uma pestana na cara. Um pormenor rídiculo. Mas em ti incomoda-me ver-te com pestanas na cara. Parece que de um instante para o outro não encontro maior urgência que deslizar o meu dedo na tua face. Chega-te mais perto. Gostava que me visses quando peço ao minuto seguinte que disponha. Afinal não existe mutação na claridade ténue. Só no foco incandescente. Observares-me com muitos corpos dentro. Por exemplo «terrorista de mim próprio». Ele há títulos sacanas. Entra é para dentro que está frio. Deixa-me aquecer-te.

As leituras e os filmes do ano

Como no ano passado aqui vão os cinco livros que mais prazer me deram este ano:

Werther; de Goethe
O Jovem Torless; de Robert Musil
O Vermelho e o Negro; de Stendhal
O Salteador; de Robert Walser
Em Busca do Tempo Perdido, Vol.I: Do Lado de Swann
e Vol. II: À Sombra das Raparigas em Flor
; de Marcel Proust

e os filmes...

Má Educação; de Pedro Almodóvar
Ten on Ten; de Abbas Kiarostami
Noite Escura; de João Canijo
Kill Bill II; de Quentin Tarantino
Lost in Translation; de Sofia Coppola

terça-feira, dezembro 21, 2004

Esta é para a rapaziada

Ontem vi a loiríssima Joana Amaral Dias no C.C. Vasco da Gama. A menina do Bloco ( o BE só tem meninas não tem senhoras, o que só abona a favor) estava com umas delicadas e imponentes botas pretas até ao joelhinho e com uma mini-saia xadrez de fazer rejuvenecer vários anos a pele ao Fernando Rosas. Imagino muito cá para comigo que se as meias fossem de liga tornar-me-ía seu devoto. Aquilo é que seria um voto chic. Bem feita para as betinhas do PP. Assim se prova a eficácia da educação dada por um psicanalista.

É Natal (Be Happy go Shopping!!!) #2

Faltando lareiras e famílias numerosas a contar histórias sobram as ruas apinhadas de gente desalmada às voltas com o verde-código-verde. Fora os preços e as bichas (ver o que o Rui disse acerca desta palavra no post anterior) esta é a altura sociológica e estéticamente mais interessante para fazer compras. As ruas estão mais iluminadas e as mulheres mais vistosas. O Natal tem que ser olhado sem a bondade e a harmonia. Há que assumir a futilidade. Os orfãos e os pobrezinhos não interessam nada. Não interessam agora como não interessam nunca. Se tiverem importância agora é porque a tiveram sempre - o que é justo. Senão que fiquem com o amor das irmãs da congregação mais a sopinha e a cara lavada. Depois as pessoas deviam comprar coisas apenas para si próprias. Compravam o que necessitavam, compravam o que a televisão fazia necessitar e, finalmente, compravam o que não necessitavam. Ficavam com as coisas. Dá-se muito o caso de as pessoas ficarem com a sensação plástica de sentimento apenas porque ofertaram algo a alguém. A prenda de X. A prenda de Y. Andam apreensivos enquanto a uma lista repleta de nomes não corresponde igual número de «vistos». Depois respiram fundo. Ou pelo menos até onde o oxigénio curto do Natal chega. Gosto do Natal. Não que celebre a natalidade de alguém importante. Mas adoro fazer compras com gente gira à volta. E o pinheiro da casa está lindo. A EDP agradece.

[Edgar já só faltas tu escrever sobre este tema tão enternecedor.]

É Natal

Pois é, em vindo o Natal é sempre a mesma coisa... O stress, o trânsito, as bichas (quero lá saber o que isto quer dizer para os brasileiros, eu sou português, veado também quer dizer o que quer e ninguém o deixou de utilizar), as indecisões, o teres de dar uma prenda, embora não saibas bem o quê... aturares a familia a tempo inteiro sem teres coragem para te escapar (pelo menos sem remorços), teres de ouvir as quinhentas mil pessoas que acham ter planos perfeitos para o fim de ano e que os relatam copiosamente, teres de aturar os post típicos desta época, as conversas desta época, as músicas desta época aos berros por tudo quanto tem um altifalante...
Pois é, é a época da paz e da familia. Tens que engolir isto tudo sem reclamar.
A boa noticia: é só até Domingo.

domingo, dezembro 19, 2004

Estocada

A compostura dita conveniente tem umas ideias parvas que encrencam a vida aos gajos sérios. Ao que parece a experiência pessoal é um ponto importante e enriquecedor na vida de qualquer pessoa. Resultado: há indivíduos que julgam o mundo com base na sua experiência própria. Veneram-na. Adoram-na. Não têm outra. Pior. Em conversa remetem-nos para ela. Para a sua história tão (ir)repetível quanto ausente de interesse ou labrega. Dá asneira. Atentam obssessivamente em pormenores sem significado e alheios a qualquer tipo de conhecimento que seja digno desse substantivo enorme. Não se distanciam da sombra e fazem constantes comparações com uma situação ilustrativa do que eu não acabei de dizer. Do que se afasta ou baralha compreensivelmente dado assunto. Olham curto de ombro a ombro. Pegam nos acasos pequeninos das suas relações e começam a claudicar a confiança que deposito na vida. Experimenta-se um diálogo e enviam-nos para o «open-space» de segundo andar lá da empresa. Despejam toda a informação aflitiva e inútil enquanto pressentem uma vaga semelhança entre uma questão e outra. Estreitam na garganta as verdades da semana passada. Isto quando não fazem de uma porra pontual ensinamento de vida toda. Incubem um trauma pessoalíssimo de explicar porque é que a Terra gira. Um gajo tenta duas ou três ideias e é interrompido com uma miséria contada de face constrangida como quem divulga o segredo de Fátima aos analfabetos. Citadinos atolados no pântano da sua experiência pessoal sem pontos de contacto com alguma coisa que não seja o ar viciado que sorvem. Deviam colocar-se um pouco na plateia. Porque é que não procuram multiplicar o mundo onde vivem por dígitos superiores a um?

Florete

Suponho existirem uns finórios desaustinados muito compenetrados em ensinar-me lições. Fazer-me ver. Aprender lições contrasta muito comigo. Divirto-me a provocá-los devagarinho como um tantra que adia até à impossibilidade. E nunca digo a verdade. Vou à volta. É bem visível que convivo bem com o meu núcleo duro. Diz-me idiota, onde é que preferes a vaselina, na cabeça ou no cú? Só no caso de querer dar-te duas ou três.

Depois disto sigamos a seguinte hipótese académica. Se escrevesse (sorrisos) um livro (gargalhadas) no tom atrás descrito (até doer a barriga e espalmar a cara no chão) não me parece que a adesão fosse tanta como seria a um livrito negro, fraco, desiludido, que versasse sobre a grande dor interior. Gosto da cor berrante. Mas também sei que o tempo flui aos altos e baixos. Provavelmente os extremos não elucidam grande coisa. Pena que o Louçã e o Portas não saibam isso. Calhando até simpatizo com os dois.

sábado, dezembro 18, 2004

A pergunta clarificadora

Não percebo a posição do Tribunal Constitucional ao chumbar uma pergunta tão clara e simples como a proposta para o referendo sobre a ratificação (não digam rectificação que me aflige e faz-me querer rectificar-vos) do Tratado Constitucional da União Europeia.
Venho aqui por isso propor uma um pouco mais clara:
«Concorda com a votação por maioria qualificada, a carta dos direitos fundamentais, a concessão da personalidade jurídica, judiciária e fiscal da União Europeia, a fusão dos três tratados fundadores num só visando a simplicidade e transparencia do funcionamento da União (e não conseguindo), com a fusão do átomo, a PAC, a anti-matéria, a cooperação judiciária entre as entidades policiais dos países membros, o anatocismo, o uso de carros a hidrogéneo, o principio do primado, o Benfica é o maior, Rato love Káthia V@nessa amor sem fim, a entrada da Turquia, a invasão do Iraque, a diminuição do limite das águas territoriais, a integração na Espanha, Canas a concelho porque isto aqui, isto aqui é outro Timor, é outra Bósnia, outro Iraque, e tudo, e tudo, e tudo, a inclusão de uma referência a Deus e à Santa Madre Igreja no Tratado, e já agora de Nossa Senhora que salvou as nossas costas do petróleo do Prestige (porque se estivessemos à espera do Paulinho.... bem tinhamos ficado lixados, nem sei se na altura já era Ministro do Mar e da prevenção dos Barcos do Aborto ou ainda não), da instituição de um imposto europeu, de todos os Durões passarem a Barrosos, o Pacto de Estabilidade e Desenvolvimento (que disso só tem o nome) e enfim queres que Portugal continue a ganhar o dinheirinho das europas ou queres que voltemos a ser um país do terceiro mundo (o que, no fundo, no fundo, ainda não deixamos de ser...)?»
Isto sim, era uma pergunta clarificadora.
P.S. Vamos lá ver é a abstenção... ou será que eles também vão rever a regra da necessidade de pelo menos 50% para ser vinculativo?

ADSL

Eu sei que já venho atrasado, mas lembrei-me no outro dia de uma outra designação que juntasse o grupo de amigos do Camara Pereira, perdão, o PPM, o grupo de amigos do Paulo Portas, perdão o CDS/PP e o grupo de amigos do Santana Lopes, perdão o PSD. A minha sugestão era ADSL, Aliança Democrática do Santana Lopes. O nome retomava o passado, era internaútico, logo (pelo menos na cabeça do próprio) moderno, e poupava despesas de campanha por poder aproveitar os cartazes dos operadores net. Lamento que a minha ideia chege atrasada... ainda por cima por causa de uma fraude eleitoral tosca.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

A big Kiss



Nós sabemos que ela sabe que a arte dá trabalho.
Mas é preciso postura.
Avança decidida na tua postura firme.
Eu também andarei por aí.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Rodapé

Não me apetece escrever sobre o mundo. É distanciado da notícia que me habituo. Tomo-me de parte. A manchete não passa de quadrículas desenhadas a enquadrar bonecos. A minha agenda olha indiferente; passo as páginas de todos os nomes. A infinita tentativa de contornar a pobreza esbarra na repetição. Deslizo para um patamar de desinteresse. Torno-me mais igual. Celebrar com avidez é agora esforço demasiado. Viver apagado. Devo conhecer muita gente que passa a vida «em baixo».

No próximo domingo ao nascer do Sol quero outro escritor a dar-me boleia até casa. Vá, pode ser o António Lobo Antunes. Talvez ele me ensine a amar uma pedra. Como é que se ama uma pedra? Como é que se ama? Posso tratar-te por Tó Lobo? Eu Hei-de Amar. Esta é uma boa semana. É uma boa semana e amanhã talvez escreva sobre fadas. Alguém, por favor, me apague essa inutilidade.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Sismo 5.5

Que respeitado tremor se sentiu ao início da tarde neste território não sei se desgraçado. Pelo menos na zona ribeirinha de Lisboa a terra tremeu bem. Que belo abanão. Eu bem sinto o chão tremer muitas vezes. Mas pouquissímas são de facto uma movimentação das placas debaixo do pés. Por mim julguei senti-lo como um refrescante banho de mar: já se sabe a escala não foi muito afectada (mas também já foi bem menos...) A força da natureza não deixa de lembrar um pouco que a vida existe e tem uma explicação. Não é um mero artíficio da cidade para ocupar tempo. E tu como é que o sentiste?

quinta-feira, dezembro 09, 2004

A Pirâmide de Maslow

Se há coisa que os "cientistas humanos" não fazem é reforçar as definições de normalidade. Aliás, essa coisa da normalidade é sempre usada a despropósito e com fins duvidosos. Mas os inadaptados gostam muito de lidar com ela de forma um tanto obssessiva para retirar não sei que obscuros dividendos. Se há coisa que os "cientistas humanos" fazem é denunciar e desmistificar. Clarificar. A propósito da Pirâmide de Maslow, de interesse relativo porque demasiado «auto» e de pouco horizonte, prefiro situá-la como produto de sociedades desenvolvidas que não implica essa visão medonha do individualismo burguês. A Pirâmide de Maslow não é aplicável em todos os continentes, é isso que chateia? Pois quem dera que fosse. Depois há sempre aqueles em que uma vida não chega para ultrapassar as "Necessidades de Segurança". Estão sempre em guerra. Como David Cooper...

Pequena declaração de intenções

O amor perante a contrariedade tem a tendência para se amesquinhar. Há qualquer coisa de mendicante que acaba por vir à superfície. Parece que é o sentimento negativo que fica. Chorar baixinho. Fuga de si mesmo. Vida gatuna. O silêncio abate-se. Confrontado com a desfaçatez o amor insignifica-se. Em vez de estrubuchar. Parece-me bastante legítimo o amor fazer a vida negra àquela indiferença que delapida a alma. Alimentar pela chama forte o caldeirão da paixão. Não existe nenhuma morte física. Não tem que sobrevir de imediato o luto. Transformar o sentimento mais vivo numa ausência de esperança significa desde logo relacioná-lo com o falso. Fazer do amor uma ave de rapina é também uma maneira de diferenciar o nosso de outros «amores». Não raro o amor fica orfão, jogado na rua a um canto. Só sobra a pena. O amor é ou não é o sentimento mais absoluto? Deve por isso pedir desculpa quando esta se impõe. Não tem que pedir mais nada. O pedido de perdão já é um acto nobre o suficiente. Um dia relativiza-se tudo e já nada tem importância. É uma lástima que o amor se entregue apenas às lágrimas numa passividade vegetativa. O sofrimento não serve para ultrapassar e regredir, implica crescimento e pode estabelecer algumas adaptações. Mas o amor unilateral fica com os planos todos baralhados, passa demasiado tempo de joelhos e mãos postas. No século XIX matava-se por amor, agora mata-se o amor. Claro que depois da sua luta particular o amor cala-se. Há sempre outro alguém que vale a pena. Juro que há.

terça-feira, dezembro 07, 2004

CDS/PP(D)/PSD

Ouvi dizer que esse monstro de competência e coerência que é Pedro Santana Lopes está a pensar voltar ao cargo de presidente da Camara. Ele abandona o cargo a meio e é substituído por um vereador que já não o era e que agora volta a não ser (presidente da camara). Ninguém acha isto estranho e, sei lá, pouco democrático? Foi para isto que o elegemos?
Há é verdade, ninguém realmente elegeu este governo de coligação. Mas diga-se em abono da verdade que os dois parceiro estão bem um para o outro... até há alguma simetria... CDS/PP, PPD/PSD (como gosta de lhe chamar o nosso Primeiro: "Portuguesas, portugueses, o PPD/PSD, na tradição de Sá Carneiro....", does it ring a bell?). Aliás, a coligação podia chamar-se CDS/PP(D)/PSD. E mantinha-se fiel à verdade, o primeiro é o que manda... O problema era se também entrassem os monárquicos. Mas não vivemos numa República desde 1910?
No entanto ninguém se surpreende, ninguém se indigna. Vivemos na alegre apatia lusa. Não façam barulho, ainda acordam alguém.

Da Weasel: com o meu melhor tá-se bem

Força (Uma Página De História):

Tás a sentir
Uma página de história
Um pedaço da tua glória
Que vai passar breve memória
Tamos no pico do verão mas chove
Por todo o lado
Levo uma de cada
Já tou bem aviado
Cuspo directo no caderno
Rimas saídas do inferno
Que passei à tua pala
Num tempo que pareceu eterno
Tou de cara lavada
Tenho a casa arrumada
Lembrança apagada
Duma vida quase lixada

Passeio na praia
Atacado pelos clones
São tantos iguais
Sem contar com os silicones
Olho para o céu
Mas toda a gente foi de férias
Apetece-me gritar
Até rebentar as artérias

[REFRÃO]
(Respiro fundo)
E lembro-me da força
(Guardo dentro do meu corpo)
Espero que ela ouça

Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
Até que um dia acordei
E vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
"O MEU AMOR MORREU"
Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir

Flashback instantâneo
Prazer momentâneo
Penso e digo até
Que bate duro
No meu crânio
Toda a dor
Toda a raiva
Todo o ciúme
Toda a luta
Toda a mágoa e pesar
Toda a lágrima enxuga
Odiando como posso
Não posso encher a cabeça
Não há dinheiro
Nem vontade
Ou amor que o mereça
Não vou pensar de novo,
Vou-me pôr novo
Neste dia novo
Estreio um coração novo
Visto-me de branco
Bem alegre no meu luto
Saio para a rua
Mais contente que um puto
Acredita que custou
Mas finalmente passou
No final do dia
Foi só isto que restou

[REFRÃO:]

Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
Até que um dia acordei
E vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
"O MEU AMOR MORREU"
Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir
Vai haver um outro alguém
Que me ame e trate bem
Vai haver um outro alguém
Que me ouça também
Vai haver um outro alguém
Que faça valer a pena
Vai haver um outro alguém
Que me cante este poema
...um grande som.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Caiu!

Caiu!!!!! Finalmente boas notícias! Toquem os sinos a rebate, é Natal! E finalmente o nosso país vai deixar de ter "the poor excuse of" (para não dizer pior) goveno que isto era! Ele há dias felizes!

Algures adiante

É a história de três ou quatro. Num delirante contínuo espremedor. Não sei até que ponto, mas cá para mim cresceste com os ares do mar. Essa coisa do iodo. Há sempre uma coisa qualquer que faz bem a outra coisa qualquer. A chamada complementaridade. Bom, tu fazes-me bem a mim. O que vale umas vezes pode não valer as vezes todas. Gostava que me visses nas minhas melhores circunstâncias. Grande conveniência esta. Nunca tinha dispensado muito tempo aos alfinetes-de-ama. Amas-me? Entrei numa loja de importação asiática a preços convidativos a contas bancárias de pensionistas. O resultado foi provisionar-me com dois espelhos no bolso de dentro. Nunca os utilizo porque a mim bastam-me as casas de banho e as montras. Minto. E os vidros dos carros. Às vezes na amenidade monocórdica dos diálogos saco de um espelho e empresto-o. Quando o recupero de volta, inútil reflexo, só viu um ou outro cabelo ser recolocado em lugar mais oportuno. Tudo no seu devido lugarzinho. Ou um sorriso tímido. Tu olhas para ti e ris-te timidamente? Foda-se. É que eu farto-me de rir. Não vejas a tua cara. Vê antes a cara que mereces.

Fora de tempo

Já não vejo por aquela janela alta. Deixei de olhar o percurso final do rio; conheço bem as águas passadas da longa aventura até culminar naquele leito largo. O deleite do início em busca automática faz falar depressa. Pela vida dentro começei a concentrar juízos e enganos numa identidade. Isto de amar o mundo. Deixá-lo ser o meu balde de lego adulto. Percebias como de modos distintos me empolgava com o belo e com o feio. Entendias de longe. Procurava vivamente englobar-te na circularidade imparável tentando construir e desconstruir verdade e aparência. Solucionar desejo com novidade acrescentada. Divertir-me com a passagem indiscreta do espectáculo. Lançar pontes para territórios inóspitos. Reduzir e limpar até o equilíbrio se deter no essencial. Pisava uma terra desconhecida e matizava o espaço de acordo com o meu arco-íris. Nunca fujo das cores que se impõem. Se ocupava demasiadamente o lugar. O meu reino é neste mundo. Não tenho pretensão de encontrar outro. O que tenho de interior, que de tão meu, oferecia-te brutal e significante sem papel de embrulho apelativo. A preguiça da manhã contrastava com a alegria cheia do final de dia. Num intenso percurso apaixonado as múltiplas fontes onde eu me saciava era a importância maior que reunia para te dar de gesto amplo. Dei-te todo o meu mundo. Tu só pedias o meu amor.

«Vidrinhos»

Magnífico termo e muito interessante post no Bomba Inteligente. O mais perigoso é que da não constatação clínica do facto podem surgir consequências bem negativas para quem circula na socialização próxima. Penso essencialmente, adiantando-me, que a questão gira em torno de uma incapacidade de sentir prazer. Há pessoas que fazem mal à saúde. O contágio das maleitas não é só físico... É preciso estar vacinado para contágios mais subtis.