domingo, dezembro 19, 2004

Estocada

A compostura dita conveniente tem umas ideias parvas que encrencam a vida aos gajos sérios. Ao que parece a experiência pessoal é um ponto importante e enriquecedor na vida de qualquer pessoa. Resultado: há indivíduos que julgam o mundo com base na sua experiência própria. Veneram-na. Adoram-na. Não têm outra. Pior. Em conversa remetem-nos para ela. Para a sua história tão (ir)repetível quanto ausente de interesse ou labrega. Dá asneira. Atentam obssessivamente em pormenores sem significado e alheios a qualquer tipo de conhecimento que seja digno desse substantivo enorme. Não se distanciam da sombra e fazem constantes comparações com uma situação ilustrativa do que eu não acabei de dizer. Do que se afasta ou baralha compreensivelmente dado assunto. Olham curto de ombro a ombro. Pegam nos acasos pequeninos das suas relações e começam a claudicar a confiança que deposito na vida. Experimenta-se um diálogo e enviam-nos para o «open-space» de segundo andar lá da empresa. Despejam toda a informação aflitiva e inútil enquanto pressentem uma vaga semelhança entre uma questão e outra. Estreitam na garganta as verdades da semana passada. Isto quando não fazem de uma porra pontual ensinamento de vida toda. Incubem um trauma pessoalíssimo de explicar porque é que a Terra gira. Um gajo tenta duas ou três ideias e é interrompido com uma miséria contada de face constrangida como quem divulga o segredo de Fátima aos analfabetos. Citadinos atolados no pântano da sua experiência pessoal sem pontos de contacto com alguma coisa que não seja o ar viciado que sorvem. Deviam colocar-se um pouco na plateia. Porque é que não procuram multiplicar o mundo onde vivem por dígitos superiores a um?