segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Muito a propósito

And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes off you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off you
I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...

'Til I find somebody new

The Blowers Daughter: Damien Rice.
Da banda sonora de "Closer".

sábado, fevereiro 26, 2005

Fiquei satisfeito com o resultado das eleições

Determinou um congresso extraordinário para eleger um novo líder do PSD.
Mostrou aquilo que eu já suspeitava acerca de Paulo Portas.
Santana Lopes foi devidamente «recolocado» na vida política.
Confirmou a má ideia que tenho dos portugueses por terem dado gratuitamente a maioria absoluta ao PS.

Não abusar da recomendação

Passo vários meses a tolerar sempre ali na fronteira do encher o saco certo sujeito. Um dia há discussão. Ele lá a partir do diafragma diz por fim: "Não sei neste momento que tipo de emoção sinto em relação a vocês!". Silêncio. Há pessoas desesperadas. Há pessoas pelas quais eu sinto tristeza. Há pessoas com que só se chega a simpatizar se com ela trilharmos o seu caminho feio.

De volta ao banco de suplentes

Um blogue, tal como Proust, tal como bebedeiras, só servem para substituir.
Às vezes é necessário juntar muitas coisas para colmatar a ausência de uma só.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

neste blogue também há espaço para chistes de porta de WC

-Sou paraguaio e venho para matar-te.
-Para quê?
-Paraguaio.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Evocação de quem?

Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim

Saúda o palácio das varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer

Ali moravam guerreiros como leoes e brancas gazelas,
e em que belas selvas e em que belos covis!

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de ancas opulentas e talhe fatigado

Brancas e morenas produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças escuras!

Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo do rio
com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o da sua taça e outras o da sua boca

As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro,
como se abre o botão para mostrar a flor.


Al-Mutamide, Evocação de Silves.

sábado, fevereiro 12, 2005

Cenas da Campanha da Vida Real

Diz Paulo Portas, o farol da estabilidade:
Não há nada mais diferente de um democrata cristão do que um liberal selvagem
O que é um liberal selvagem? Um que ainda não foi domesticado? Um liberal que vive na selva de tanga? Ou sem tanga? Ou será que isto é tudo uma tanga?
O ideal era que num panfleto aparecessem lado a lado um liberal selvagem e um democrata cristão e um liberal selvagem numa espécie de descubra as diferenças. Quem descobrisse mais podia enviar um cupão para a sede do CDS/PP habilitando-se a um lugar no governo de PP (Paulo Portas) como um dos milhares de acessores.
E será que são espécies totalmente distintas ou é possível fazerem-se cruzamentos? Seria curioso ver um democrata selvagem... liberal cristão?
Será que um liberal cristão concordaria com o padre que em plena Antena 1 se atreveu a tentar condicionar os votos? E a separação entre a igreja e o Estado?
Diz PP o Danúbio do pensamento democrata cristão (o que é uma contradição nos seus termos, pensamento e democrata cristão... pensar é heresia, pode levar a questionar o Senhor...) que não há nada mais diferente entre um nazi fascista, perdão, ele, e um Luís Delgado, perdão, um liberal selvagem...
É o que ele diz.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005


Alegoria da Primavera, Botticelli.

A Dove lançou uma campanha de promoção «pela beleza real» que sob o ponto de vista da publicidade e do marketing é brilhante. Marca pela diferença de forma agressiva: recheou de imagens não padronizadas os painéis publicitários (mulheres envelhecidas, mulheres com sardas e mulheres «charmosas ou volumosas», isto é, gordas) e lança o debate contra o ideal de beleza estereotipado. Corre ao contrário da concorrência. Mas qual concorrência? Só se for a Nivea que quanto muito dava bolas de praia. Que eu saiba a Dove não vende batons (a menos que sejam do cieiro), nem rimel, nem delineadores de lábios, nem base, nem perfumes, tem uma gama de cremes muito limitada, e não posso adiantar-me mais porque o meu conhecimento de cosméticos esgota-se depressa. Ou seja é a empresa certa no debate certo para um público-alvo definido, isto é, pessoas pouco patrocinadas pela natureza ou com mais idade, que se sentem pela primeira vez retratadas em imagens de publicidade e identificadas com a marca e o produto. A campanha chega a ser educativa. A velhice é encantadora e saber envelhecer com naturalidade é das coisas bonitas. As sardas não me impingem. Não gosto. Mas se a menina souber viver com a sua pequena diferença também será belo e eu gostarei dela. Se o problema, assim identificado como tal, da senhora «volumosa» for apetite aconselha-se tento no palato. Se for hereditário e mais ou menos irresolúvel não há nada a fazer. A beleza, indissociável da personalidade, tem uma importância relativa. É saudável e educado sabê-lo e ensiná-lo para prevenir bulimias e anorexias. Agora, belo é belo. Já Sandro Botticelli o sabia quando pintava musas loiras.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Excepção precisa-se

O maior acto de um ser a que por confiança desmedida se chama «humano» é a arte e a ciência. O resto é negócio e tempo livre. Nao tem mal nenhum. Mas convém acautelar o lugar no galho sob pena de andar ao engano e fazer barulho a mais, que é uma forma de poluição muito esquecida. A ciência está um pouco resguardada do aviltamento. Se em Portugal existisse espaço que fosse para errar a ciência eu do meu lado já julgaria um bom começo. Em Portugal falar em ciência é uma conversa de longe em longe, tão distanciada está das condições favoráveis, e do interesse inserido num quotidiano cultural onde a experiência se situa ao nível do dia anterior, repetível. Já a arte permite enganos vários. Está mais à mão. Não necessita de grandes condições logísticas. Precisa de um corpo e de um cérebro a funcionar de facto. Precisa de risco, imaginação, pensamento, emoção, disponibilidade, loucura, reflexo, criação, multiplicação, crítica, horizonte, e mais uns tantos classificativos um pouco chatos que é necessário saber dominar. É no contacto com a arte que o ser, a que por confiança desmedida se chama «humano», se recoloca no mundo e não raro incomoda-se. Diferencia-se se for capaz. É no contacto com a arte que se percebe como Portugal tem uma cultura atrasada, subdesenvolvida, e de como isso é muito penoso. Mesmo as novas gerações descendem da linhagem apoucada e normalizada do ditador de província mas com os tiques aburguesados e arrogantes que o centro comercial e o telemóvel concederam. Claro que são estreitos limites, a máscara é frágil. Não se procura nada dentro de si próprio. Mesmo as novas gerações procuram ser empurradas na maca enquanto vão dizendo um adeus tímido. Não percebem para onde vão. Têm comportamentos de busca do pai. Sociedade paternalista, onde os filhos sem saber o que é a independência e a liberdadade, esperam tudo, que algo lhes seja conferido de cada vez para que possam avançar. Não há procura de transformação que pode desembocar no talento. Não há uma prioridade por vaga que seja. «Eu tenho a minha vida» é a razão dada para fazer letra morta de todos os classificativos atrás descritos. Qual vida. Viver a seco. Gente sem livros, sem paisagem, sem verdade, sem vergonha. Gente desinteressante apaixona-se por gente desinteressante e casa-se na santa paz do desinteresse absoluto. Viver no século XXI ou na idade da pedra é um acaso existencial. Eu que julgava ser uma sorte fenomenal contar até 2005. Ninguém salta para a frente. Mas esperam no fundo dos seus medos que alguém um dia próximo lhes venda a bisnaga do talento e a espete na testa. Depois falam em felicidade. Para desenjoar.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Votar

domingo, fevereiro 06, 2005

Enfim, auto-flagelação

A pessoa que mais, não digo, foi a minha ex-namorada. Nunca algo pôde ser tão trágico. Ela é inteligente. Eu sou idiota. Ela é linda. Eu dou ares. Ela é simpática, sociável e alegre. Eu quanto muito sou adaptável e exagerado. Ela é sensual. Eu sou um actor. Ela é uma bomba. Eu sou limitado. Ela sabe que por vezes mais vale omitir. Eu para as verdades que digo mais valia mentir. Ela é tolerante. Eu faço escolhas. Ela ama as pessoas. Eu amo o mundo. Nos raros momentos em que está presente tenho dísparos de adrenalina sucessivos. E de testosterona. E sinapses em estímulos desordenados. Fico nervoso. Fico encantado. Não consigo comportar-me. Tenho ciúmes, sou imaturo, dou cabo da minha frágil reputação. Imagino duelos terríveis e finais com pretendentes. Choro como um puto. Tenho sonhos. Sofro pesadelos. Eu, não disse. Ela não me liga. Procuro entreter-me. Depois volto ao poço. No meu telemóvel chove continuamente. Ela é o único raio quente que me faria feliz. É importante que as pessoas não se percam no meio de considerações estéticas ou existenciais. Depois acabam por não dizer. É bom aprender cedo. Escrevi. Agradeço muito. Quantos sorrisos me libertam.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

A Terceira Via

Disseste-me que sou parecido com o Jude Law. De acordo.
Mas a questão é urgentemente outra. E tu, queres ser a Julia Roberts ou a Natalie Portman?

Prioridades

Ultimamente dá-me ideia que tenho metido mais em estilo que em substância. Falo em postagem, bem entendido. Escrever bem é quase pensar bem. Ter estilo é quase prenúncio de substância. Quando se é iniciado vale mais a procura da escrita do que do pensamento. Quando se está solteiro o estilo é sempre mais importante que a substância. Primeiro a aventura. Depois o luxo.

Diferença, essa palavra enorme

Aprovo a diversidade. Aprovo a diversidade como aprovo o mergulho de mar num dia de calor. Ou Bossa Nova na esplanada ao fim do dia. Ou o amor inocente em novos dois numa descoberta lenta. Aprovo a diversidade. Como aprovo aquilo a que chamais absurdo num personagem de Beckett. Partilhar com um velho amigo as marcas de dias soltos. Regressar lá onde a memória se adensa. Aprovo a diversidade. Como aprovo a origem. Exalo diversidade como o óbvio de quem gosta de viver e precisa respirar. A relação com a diversidade nunca pode ser afastada, declarativa, paternal, reactiva. Aprovo a diversidade como metade de mim que reside em lugar outro. Senão fica intenção exterior. Coisa forçada. Para parecer. E compensar males maiores.

Seu patego de camisa branca às riscas

Ontem fui cortar o cabelo e peguei no Correio da Manhã enquanto esperava. Fiquei vidrado na notícia: «Assassinato alegadamente motivado por razões passionais».

Acabei por tornar à rua de cabeça mais fria.

Seu escritor

E logo no insulto seguinte o dermatologista continua: Mentiroso!

Ainda não te deste conta que muita coisa que aqui escrevo é mentira. Mas também ainda não reparaste que muita coisa é verdade.

Não vi

Não é orgulho. É a constatação de um facto. Não vi o único debate entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro. Teria sido bastante comodista da minha parte. Mas para quem está solteiro é uma perca de tempo ser comodista. Mas espera aí, também não deixa de ser um erro muito caro para quem está casado ou coisa do género? Fiquei menos provisionado de substância para o dia 20. Sim eu sei. Qual substância.

Proust a antecipar os adjectivos com que me ías classificar

Ao lado da de um grande artista, a amabilidade de um grande senhor, por muito encantadora que seja, parece a representação de um actor, uma simulação. Saint-Loup procurava agradar, Elstir gostava de dar, de se dar. Tudo o que possuía , ideias, obras, e o resto que tinha em muito menos conta, tê-lo-ia dado com alegria a quem quer que o compreendesse. Mas, não existindo uma sociedade suportável, vivia num isolamento e num estado de selvajaria a que a gente da sociedade chamava pose e má educação, os poderes públicos atitude negativa, os vizinhos loucura, e a família egoísmo e orgulho.

[Em Busca Do Tempo Perdido Vol.II: À Sombra das Raparigas em Flor, Marcel Proust]

Proust a antecipar o efeito Lux: só as muito belas

Talvez não fosse apenas o acaso que, para reunir aquelas amigas, na vida a todas escolhera tão belas; talvez aquelas raparigas (cuja atitude bastava para revelar a sua natureza atrevida, frívola e dura), extremamente sensíveis a qualquer ridículo e a qualquer fealdade, incapazes de sofrer uma atracção de ordem intelectual ou moral, tivessem verificado naturalmente, entre as colegas da mesma idade, que todas sentiam repulsa por aquelas outras em que as predisposições contemplativas ou sensíveis eram denunciadas pela timidez, pelo embaraço, pelo acanhamento, por aquilo a que chamariam «um género antipático», e as tivessem mantido à distância; ao passo que elas, pelo contrário, se relacionavam com outras em que as atraía uma certa mistura de graciosidade, agilidade e elegância física, única forma de imaginarem a franqueza de um temperamento sedutor e uma promessa de boas horas de convívio.

[Em Busca Do Tempo Perdido Vol.II: À Sombra das Raparigas em Flor,
Marcel Proust]

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Olá João César

Venham daí essas tripas. Descansa, não falo para nenhum entidade joanina supra-humana. O teu gosto não me contraria nada. Fica só uma coisa rápida template abaixo a recordar que a verdadeira morte só decorre do esquecimento. Meu porco bom. Homem frágil e bravo. Sei que estás a apodrecer debaixo da terra. Há dois anos passei a sentir-me menos acompanhado; que estrago infeliz. O teu vai e vem havia sido transformado em muitos passos ganhos. Assaltei através de ti a riqueza de enfiar a mão na massa. Arroz devidamente malandrinho. Pintelhos à lupa. Freiras forretas. Meninas dadas. Mel pelos beiços. Vinde abelhinhas. Quanto ao menos não se impõem grandes conversas, oh visceral incorruptível. Bem conheçes o que a casa gasta. Os mantimentos são poucos e contigo já não se pode contar. Lembro com saudade a vez em que mandaste foder esta gente toda. Julgaram que era má educação. Confundem falta de maneiras com a sinceridade de um desejo profundamente enunciado. Outra liberdade que te relembra e me manda algumas vezes ao chão são as belezas leves. Saio-te com propriedade evidente um cona melado. Pá... não gostei do Silvestre. Parecia uma peça de teatro filmada. Mas há a descontar o ano afastado e as coca-colas com que já me encharquei. No encontro entre dois iguais o fracasso é sempre partilhado. Mas vou lá eu fazer ver isto a quem precisa. Digo-te outra. No Branca de Neve perdi as falas iniciais a magicar curioso na rapariga solitária da penúltima fila. Não havia claridade para entrever um traço que fosse do rosto dela. No fim era uma pseudo-intelectual entrapada. E eu a perder os primeiros minutos da tua adaptação do Robert Walser. Um gajo é trocado pelas merdas mais incríveis. Talvez sobre isso me remeta à impassibilidade. Da Comédia de Deus ficou-me uma outra introdução; bem mais elucidativa que viver anos e anos a transbordar energia. Espero continuar a existir variedade suficiente para me me ir deixando suspenso. É um tempo intermédio que molda os momentos seguintes. Estares morto ou vivo são certezas de vida enclausurada que desprezavas. Encontrar-te em todo o princípio de prazer, amar-te, artesanal, é de uma desordem menos fugaz. Meu porco bom. Persigo a hipótese da tua sobrevivência no coração e no acto de cada homem livre.

(João César Monteiro, realizador, morreu há dois anos).

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Memória

Ver a RTP Memória é um regresso à minha infância. E também à altura em que o Herman José ainda tinha graça (há muito, muito tempo, quando os animais falavam). A escola dos Verdes anos, sendo uma daquelas com arquitectura Estado Novo é absolutamente igual à minha... e os professores, vestidos à anos oitenta, com penteados à anos oitenta...
E os carros? Quando há alguma imagem do exterior parece sempre uma visita ao museu do automóvel... é genial.
Mas a selecção de conteúdos é, por vezes, no minímo bizarra. A exposição contra a tuberculose em 1950? O aniversário do batalhão dos telegrafistas do Porto em 1964? Será que eles tiram as notícias ao calhas? Ou será que sou só eu que falho em ver a relevância de tais acontecimentos? Não seria melhor, sei lá (não há coincidências, artista de circo, alma de pássaro... e este último... sei lá, I'm in love with a pop star... ou lá o que é), (sim eu sei que foi um "entre parêntesis" um bocado para o parvo, mas apeteceu-me), contratar um historiador, ou assim, e ele poderia escolher? Se calhar são só as minhas ideias, não sei.
O que é curioso é que, por vezes, as coisas são mais actuais do que as séries da Sic Comédia ou Sic Mulher...