sexta-feira, fevereiro 11, 2005


Alegoria da Primavera, Botticelli.

A Dove lançou uma campanha de promoção «pela beleza real» que sob o ponto de vista da publicidade e do marketing é brilhante. Marca pela diferença de forma agressiva: recheou de imagens não padronizadas os painéis publicitários (mulheres envelhecidas, mulheres com sardas e mulheres «charmosas ou volumosas», isto é, gordas) e lança o debate contra o ideal de beleza estereotipado. Corre ao contrário da concorrência. Mas qual concorrência? Só se for a Nivea que quanto muito dava bolas de praia. Que eu saiba a Dove não vende batons (a menos que sejam do cieiro), nem rimel, nem delineadores de lábios, nem base, nem perfumes, tem uma gama de cremes muito limitada, e não posso adiantar-me mais porque o meu conhecimento de cosméticos esgota-se depressa. Ou seja é a empresa certa no debate certo para um público-alvo definido, isto é, pessoas pouco patrocinadas pela natureza ou com mais idade, que se sentem pela primeira vez retratadas em imagens de publicidade e identificadas com a marca e o produto. A campanha chega a ser educativa. A velhice é encantadora e saber envelhecer com naturalidade é das coisas bonitas. As sardas não me impingem. Não gosto. Mas se a menina souber viver com a sua pequena diferença também será belo e eu gostarei dela. Se o problema, assim identificado como tal, da senhora «volumosa» for apetite aconselha-se tento no palato. Se for hereditário e mais ou menos irresolúvel não há nada a fazer. A beleza, indissociável da personalidade, tem uma importância relativa. É saudável e educado sabê-lo e ensiná-lo para prevenir bulimias e anorexias. Agora, belo é belo. Já Sandro Botticelli o sabia quando pintava musas loiras.