quarta-feira, outubro 12, 2005



Em Ela Odeia-me Spike Lee cruza família, política, dinheiro e sexo na vida de um afro-americano (reduzido somente a preto, quando é preso) talhado para sucesso e lençóis mas afinal com algumas preocupações aflitivas que injectar esperma por dinheiro acarreta. O rapaz charmoso interpreta bem e o filme é bom. Mas interpreta melhor quando se despe do que quando responde perante um júri da CMVM. É por isso que secalhar sou mau actor, eu acho que faria melhor figura perante um júri da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, uma seca, do que a despir-me, um gozo. Se este também for o seu caso e não for aspirante a actor, não se queixe do insucesso amoroso e vá aprender despindo-se. O realizador desconstrói algumas concepções adquiridas, desconstrói se já as tiver o espectador, mas constrói se a fase ainda for a da apreciação. Nada de muito denso, algumas vezes até fantasista. Só lamento a escassez nas nossas ruas de mulatas ou latinas com estilo, neste particular o filme dá ideias. Que digo, às vezes nem portuguesas. O título do filme é muito bom. Espero que uma «she» algum dia me odeie, é uma situação que sugere bons antecedentes. Se ela me odeia alguma coisa hei-de ter feito. Spike Lee fez a coisa certa, a ver.