...sai de cima do telhado
Vizinhos. Vizinhos de prédio. Vizinhos de cidade grande. Só gosto daqueles que nunca vejo. Podem ser grandes conversadores, um sentido de humor óptimo, infalíveis com o condomínio, bons samaritanos, a despensa repleta de ramos de salsa, generosas na cama. Tanto se me dá. Sou mau vizinho, surdo e com rotinas como calha. A comunidade não é um rebanho de ovelhas. Mas há uma vizinha uma mãe ainda jovem, de quem não sei mais nada nem quero saber, que oiço cantarolar muitas noites, embalar o filho, que pode ser filha, adormeçê-lo num sono descansado. Isto não se passa aqui. Isto acontece em lugares com tempo. Na cidade grande nada de importante se passa dentro de casa, a noite é um tempo inoportuno onde a cama é o caminho mais curto para chegar à gloriosa manhã, embocadouro de coisa nenhuma. Há lugares onde uma jovem mãe embala o filho e onde os cães ladram sozinhos a noite toda.
1 Comments:
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