quarta-feira, abril 13, 2005

Secas

Na melhor discoteca de lisboa - e o problema é ser de longe a única e a melhor - forma-se fila de espera à entrada. Passa-se que chuvisca. Como só tenho duas mãos não gosto de inutilizar uma com guarda-chuva se a água molha pouco e o percurso é curto. Estando bem acompanhado isto muda de figura e ofereço-me para segurar no bem lembrado guarda-chuva. Se além do mais me pedem expressamente a utilização do patético e utilissímo objecto recusando pinga de água a demolhar corpinho já de si fresquinho sem necessidade de auxílio atmosférico, há que ter a decência de ir ao porta-bagagem e cumprir telhado artificial. Sai-se do carro, calcorreia-se, fim da fila, início, entrada, dever cumprido, cabelo seco, chapéu molhado, oiço referência do porteiro demasiado simpática para sê-lo mesmo sobre ter estado na fila com o chapéu aberto. Em que é que estar de guarda-chuva aberto belisca a imagem de um espaço nocturno, ainda que seja o melhor? Porque é que tenho de interiorizar regras que nem no bom senso existem? Porque é que não consigo remeter para o caralho quando essa é a forma de tratamento mais educada a dado momento?

Portugal é um país fraquinho que na falta de conteúdo ou mesmo na sua presença continua a privilegiar tão desesperançadamente - necessidade apenas declarativa, ela própria vazia de força - uma insegura aparência externa pormenorizando a irrelevância até à interiorização de características de doente mental a pessoas aparentemente normais. Em Portugal o pessoal sabe melhor o que é a normalidade do que a saúde. E não estou a falar de constipações.