quarta-feira, abril 13, 2005

Do vidro e da carne

O que eu dava para ter como amigos certos escritores preferidos. Um escritor predilecto daria na maioria das vezes um bom amigo. Já escritoras parece-me uma incógnita. Continuo ainda a falar dos melhores. Quando Sylvia Plath escreve a Câmpanula de Vidro (um excelente livro) não dá muita vontade de ter privado com ela. Significa que geralmente as boas escritoras só servem para se ler, uma vez que sob o ponto de vista social, ou mesmo sexual - é aqui que eu também quero chegar - não devem ser muito estimulantes. Pelo contrário, dentro e fora das páginas as mulheres sabem o que um bom intelectual vale. Trata-se de uma nota de rodapé de género e evolução. Se eu fosse uma rapariga boa-todos-os-dias queria lá saber do registo laborioso das minhas alterações no sistema nervoso: uma conclusão igualmente verdadeira e retrogada. Uma boa cabeça não invalida um generoso decote. Potencia-o. É isto que deve ser difundido para agrado geral. Por enquanto são só os Gabrieis Garcia Marques que escrevem coisas vivas como Memórias das Minhas Putas Tristes. Mas dei dois maus exemplos. A Sylvia Plath era feminista. O Gabriel Garcia Marques é sul-americano. Nada estará mais nos antípodas.