Vira-te para o outro lado
Falo com amigos viajados. Dou-me com gajos sem encargos com a vida comum, etapa a etapa, feliz para sempre, agora isto sem dúvida, daqui a uns anos aquilo porque se impõe, mais tarde ou mais cedo, a sensaboria repetida. Igual à rua toda. A probabilidade não muda muito. Converso com aqueles que fazem o trabalho de casa num avião da Quantas, egoístas e com dinheiro para gastar. São pessoas de uma sinceridades quase descompensada. Acertam mais que os costumes. Não sabem nada de arte, amor, ou diminuíndo drásticamente a fasquia, simples sossego. Mas ao menos não se movem só em aparência, têm raio de acção. Já se sabe. Fogem um pouco de si próprios. Mas encontram-se em todo lado. E não há análise que resista. Conheçem por contraste. Avaliam por oposição. Descobrem por comparação. Dizia-me um lógico que comparar é dos piores exercícios com que nos podemos ocupar. Que a diferença e tal e tal. Devia ter-lhe respondido em forma de sugestão e remetê-lo «pró caralho» mas escutei-o com atenção. Resulta que no meio do tête-à-tête algo ou alguém sai sempre em défice por insuficiência ou ausência de atributos. O problema começa quando é a parte errada que fica em apuros. O lógico aconselha fingir que de vez em quando não se vê. Com uma frequência residual não só oiço o que me dizem como também sigo a posologia recomendada.
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