Daniel Oliveira, a misturadora
Daniel Oliveira diz coisas com um certo grau de comprometimento. Não é mau. A propósito do Iraque, escreve esta semana no Expresso, que a democracia é uma conquista do povo. É encantador. Como gosto de coisas bonitas tendo a concordar. Em abstracto normalmente concordo mais vezes do que aquelas que discordo. É muito escusado começar a afiar a faca logo ao primeiro vislumbre de diferença. Mas isto é só um príncipio de conversa. Daniel Oliveira tem lá a sua prédica. A democracia ao punho do povo. Eu também cerro o meu e salto de ganas. Mas passemos ao contexto concreto. Primeiro é muito inteligente puxar as palavras ao nosso ponto de vista. Falar em democracia em vez de, para já, contentar-se com liberdade ou mesmo liberdade de voto. As eleições correram muito bem. Existe liberdade de voto no Iraque. Ou existe comparação possível com os tempos da ditadura? Que conquista seria esperada num regime como o de Saddam? Por mais quantos anos continuaria a existir um território e um povo anulados por um regime a destilar ódio e a incentivar «vingança»? As possibiliades fechadas estão agora todas em aberto. Saddam está definitivamente fora de cena. O empurrão «ingerente» está a dar os seus frutos. Agora sim o tal povo da conquista está livre para tal. Agora a conquista está na força e vontade do povo. A coisa dar certo no Iraque depende, como nunca, dos Iraquianos e do seu sentido avisado. A esquerda gosta muito da multiculturalidade mas depois baralha-se e acha que a busca de valores é igual em todo o lado. Como se as condições conjunturais fossem questão de somenos importância. A conquista da democracia pelo povo foi viável no Ocidente onde havia espaço para uma certa consciência pessoal e colectiva. Mas que dizer do Iraque que à parte de todas as especificidades culturais distintas, estava condenado a uma opressão das mais desumanas que a história pode contar? Depois é necessário saber que existe uma diferença substancial entre uma autocracia e uma possível teocracia. A autocracia é criminosa e inaceitável desde o primeiro momento pelo modo como é imposta de forma continuada no tempo. A aceitação da teocracia é acima de tudo uma influência cultural, se não for ela própria consequência. E isto basta para modificar substancialmente. Abbas Kiarostami poder filmar em Teerão e ser livre para falar do papel da mulher deve ter algum significado... Agora compare-se o exemplo com o Iraque de Saddam. Não sei daqui a quanto tempo o Iraque irá ser uma democracia ou sequer se será. Sei que os iraquianos cada novo dia estão mais entregues a si próprios. E isso soa-me a liberdade.
Entretanto o Barnabé ainda não se pronunciou sobre as eleições no Iraque.
AGUARDA PIOR ALTURA.
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2 Comments:
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