terça-feira, novembro 02, 2004

O que cabe no tempo

O tempo esmaga-me. É uma frase impressiva que gosto de dizer como imitação, e como tal exagerada, do que se vai ouvindo em tagarelices dispersas. Não me preocupo com o tempo. O tempo cronológico, aquele que passa. Não deixo que o tempo me guie. As horas não me levam. Radico no tempo uma linearidade despojada, simplificada ao máximo. Há um começo e há uma adicção contínua: assim como não existem várias histórias mas apenas uma. Individual. Isto leva a uma conclusão. A de não existirem depósitos temporais estanques. Pode-se querer apagar mas também somos produto daquele passado incómodo. Mesmo que se sonhem milagres o futuro não é um tão desconhecido tempo. Somos sempre nós que afinal falamos ao tempo. E isso faz toda a diferença. Depois, ser jovem ou envelhecer é uma programação orgânica, não é um fardo que carrego. Salutar é ter presente que a emoção não é algo que se detiora por degeneração de células. Articular raciocínio não chega a uma altura em que provoca dor física. O tempo é uma séria aldrabice para as nossas pequenas vilezas. Não ter tempo. Claro que colocar o tempo no seu devido lugar, como todas as pretensas estratégias de desmascaramento, acarreta os seus imponderáveis. Sou mau vizinho. Faço umas asneiras de dieta. Deixo à espera. Troco as voltas aos ponteiros, a noite e o dia servem-me conforme. Perco tempo. Ganho tempo. Escolho antes de fazer. Classifico. Porque as agendas são uma droga e não têm imaginação.
Lembro-me de um conto de Sam Shepard:
A vida é o que te está a acontecer enquanto estás a fazer planos para outra coisa qualquer.
Boa.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Best regards from NY! » »

3/03/2007 09:25:00 da manhã  

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