«Não, não conheço», disse ele, mas, em vez de dar uma informação tão simples, a uma resposta tão pouco surpreendente, o tom natural e corrente que convinha, debitou-a destacando as palavras, inclinando-se, cumprimentando com a cabeça, ao mesmo tempo com a insistência com que reforçamos uma afirmação inverosímil para que acreditem em nós - como se este facto de não conhecer os Guermantes só pudesse dever-se a um acaso singular - e também com a enfâse de alguém que, não podendo calar uma situação que lhe é penosa, prefere proclamá-la para dar aos outros a ideia de que a confissão que está fazendo não lhe provoca qualquer embaraço, que é fácil, agradável, espontânea, que a própria situação - a ausência de relações com os Guermantes - bem podia ter sido, não sofrida, mas querida por ele, resultar de uma qualquer tradição de família, de um príncipio de moral ou de um voto místico que lhe proibisse nomeadamente a frequentação dos Guermantes. «Não», continuou, explicando pelas suas palavras a sua própria entoação, «não os conheço, nunca quis, sempre fiz questão de salvaguardar a minha plena independência; no fundo, eu sou uma cabeça jacobina, sabe. Muitas pessoas quiseram ajudar-me, diziam-me que fazia mal em não ir a Guermantes, que fazia uma figura de grosseirão, de velho urso. Mas essa é uma reputação que não me assusta, tão verdadeira que é! No fundo, neste mundo já só gosto de algumas igrejas, de dois ou três livros, de mais uns poucos quadros, e do luar quando a brisa da sua juventude traz até mim o aroma dos canteiros que as minhas velhas pupilas já não distinguem.» Eu não compreendia bem que, para não ir a casa de pessoas que não se conhecem, fosse necessário ter apego à independência própria, e como é que isso podia fazer com que alguém parecesse um selvagem ou um urso.
[Em Busca Do Tempo Perdido Vol.I: Do Lado De Swann, Marcel Proust]
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