segunda-feira, novembro 22, 2004

Duas margens

Quando me lembro daquela noite aquecida por ti não te vejo dentro da sala, estamos encontrados no caminho um do outro levantados de um jogo de verdade e mentira, no cais. Não sei se é forjada pelo meu mundo interior mas é a neblina que te traz. Concentro-me no teu rosto enquanto a luz fraca te ilumina. Falamos com o movimento sincronizado dos corpos, estremeço quando nos aproximamos, atraídos cara a cara, boca a boca, é essencial que a música não termine, eternizar a minha mão na tua mão. Que instantes intermináveis me dás. Uma noite no cais, no porto de Buenos Aires, onde nunca fui mas juro que estivemos. Desloco-me para dentro de ti e numa magia concertada pela tua beleza passo a ser indiferente ao somenos que me rodeia. Ao fogo do céu há que alimentá-lo continuamente. Que sei eu se não o percebi? Perdi-me demasiado no micro-clima do Monte da Lua. O que separa o vento forte do teu amor que delicadamente adornavas para que me tocasse como uma brisa envolvente, fresca de continuamente renovada, bonita de um riso de bem com o mundo, nunca consegui plantar o jardim que mereces. O que o separa do cais de Buenos Aires é a soma dos dias; dar um beijo, uma palavra doce, muitas notícias do coração, lembrar quando pertence. Explodir o peito nas tuas mãos suaves. Derramá-lo nesse teu modo imenso. Um sonho no cais, deixa-me dançar contigo o resto da noite, ao som do tango.