Um para a noite
Deito-me com Proust. Continuo a ler os melhores. Outros a quem também dou primazia são aqueles que no seu tempo foram desconsiderados, não lidos, e só descobertos ou editados muito mais tarde. Esta minha preocupação é o exemplo do género de destino, ou determinismo, em que acredito. Um escritor recusado é um escritor aclamado anos mais tarde. Um destino finalmente justo. Mesmo que fora do tempo da vida viva. São os desprezados que têm algo a dizer, algo mais a dizer. Por ora deito-me com Proust com a perspectiva de uma longa noite de prazer. A príncipio foi complicado, não lhe dei tempo, confundi-o. Depois percebi que para dizer quatro ou cinco coisas a valer é preciso um certo distanciamento e apelar à memória de forma progressiva. Por mim estou com ele. Afinal o Tempo Perdido de Proust não anda assim tão longe dos meus dias. Graças a ele. Graças a mim. Para o resto há uma enormidade de possibilidades, o compasso é só o tempo de enfileirar.
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