O pior momento (2)
Para além de poder dizer, sem novidade, que o governo é na generalidade mau, ressalvando um conjunto de ministros com capacidade de mudança, não é significativamente pior que anteriores. O que existe é uma obsessão com um estilo de liderança inconstante e pouco formal, às vezes mal preparada, geradora da maior das perplexidades. As propostas de lei (boas ou más, melhor ou pior veiculadas) não se têm mostrado populistas como alguns previam, muito pelo contrário. A maioria dos artigos de opinião versam sobre a insubstancialidade de Santana Lopes, como se não existissem ministros competentes, como se não houvessem propostas importantes em cima da mesa para serem discutidas. Resulta que a atmosfera há volta do Governo encontra-se inquinada por dois grandes motivos. O primeiro encontra-se na forma tradicional de oposição política e que nestes três meses se degradou de forma evidente procurando potenciar o descontentamento pela base. O ataque político transformou-se num mero eco do ruído mal informado da opinião pública. É a impressão que conta. Temos exemplos recentes. O que importava saber a respeito do encerramento do túnel do rossio era se existia ou não ligação com as obras do túnel do Marquês. O intuito é óbvio. As declarações de Morais Sarmento (que não se deu ao trabalho de avaliar o sentido de oportunidade) sobre o formato da RTP foram rapidamente puxadas para a questão da limitação da liberdade de imprensa e muitos fantasmas foram desde logo soprados. A intenção é clara. Nestes termos não há debate possível. E um governo com uma liderança titubeante rapidamente se enreda nas suas próprias hesitações. O governo não é a causa de todos os males. A oposição séria não existe. Repare-se neste PS de Sócrates. O próprio pouco se mexe e o questionamento feito pelos seus pares, efectuado sempre de forma grosseira, apenas procura arrastar o governo até ao final da legislatura fixando-o num ponto em que os eleitores rapidamente o crucifiquem aquando da chamada às urnas. É visível que neste momento eleições seria um grande incómodo para Sócrates. Mas não quero querer que o deserto de ideias que neste momento o PS transparece se verifique quando vencer as próximas legislativas. A segunda razão relaciona-se com a não-aceitação de um novo modo de estar na política, que corta com os anteriores, e que se condensa na utilização de novas formas de comunicação que estão neste momento a ser exploradas de uma forma quase a gosto e também elas sem rumo certo. A repulsa que origina nos opinion-makers é o que os distrai do essencial, que continua a ser mesmo: projectos para o País. Depois o terreno desconhecido, movediço, chama à memória desgraças do passado. Por isso é que nunca tanto se temeu como agora a diminuição de liberdade ou de direitos, mesmo que nada disso tenha a ver com o futuro, pelo menos de uma forma local e estrutural. O perigo de não gostar de um estilo ameaça sempre tornar-se numa questão pessoal onde a emoção fala mais alto que a razão. O que fica é o debate nunca ter sido tão péssimo como nos tempos que correm, e desta vez a culpa está igualmente distribuída; não pode ser de um homem só. Puxar o futuro do país para primeiro plano não nos fixando numa mudança que não se configura como meramente passageira. Aceitar a mudança. É que a seguir vem Sócrates.
1 Comments:
E se o governo de Sócrates se conseguir superar, como os anteriores governos têm sucessiva e gradualmente vindo a fazer, numa progressão de nível descendente, de ordem decrescente, regressiva e depreciativa para o país, então, estaremos muito mal! Curioso... não haverá algures um governo com estabilidade e capacidade para governar o país...?
Oito anos de Guterrismo foi mau, mas oito meses de Santana prometem superá-lo. Eu acredito, sinceramente, que ele tem capacidade para isso!
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