segunda-feira, outubro 11, 2004

Dentro do Mundo

É isto que quero dizer. A errância pode servir vários interesses ao mesmo tempo. Desde logo os do Próprio com muitos princípios e meios. Esqueçamos os epílogos para que não se lhes dê demasiado, respeitando assim o gosto que o fim tem, em ser parco. Mas não se houve contar que essa forma de trilhar com pouco rumo, tenha alguma vez resultado em largos proveitos indefinidos. Não se devia dar muita importância ao que se houve contar e no entanto é exactamente nessa cacofonia que o ouvido se gosta de apurar. E em proveito da verdade os sentidos andando um pouco soltos justificam-se melhor. Que para grandes males, grandes remédios. Eduquem-se os sentidos ou aprenda-se a filtrar. Temos que a errância é um contraponto à melancolia e a estados análogos mais ou menos gravosos. A desgraça está em ninguém o saber. Escusava-se muito lixo que olhar a vida de lado origina. Posso aqui salientar a tentativa assumida de em cada frase tomar as rédeas, não quero de modo nenhum acabar a escrever sobre a excessiva concentração de energia porque embora fosse bonito de pintar seria penoso de ver. Se me relaxasse, palavra absurda, conceito feio, também haveria a possibilidade de me fugir o dedo para a vagabundagem e sobre ela discorrer de modo tão apaixonado que se tornaria antipático para as comuns simpatias alheias. Finalmente: eis que se reenvia a errância para dias melhores. Ela que tanto tempo andou a embalar a auto-estima, a perfumar o Eu com odores inolvidáveis, ela que insinuou a magnificência, ela que puta de vida, varreu a poeira para debaixo do tapete e ocultou-a até que alguém numa intersecção tardia abriu a janela sacudiu o tapete e revelou de que inutilidade falávamos quando referiamos poeira, afinal indigna de atenção porque imemorial na culpa e na origem. A errância oferece-nos um diamante em bruto que só é lapidado quando dela regressamos. Dela, que só no género feminino a podemos enquadrar. Também ela seduz, alicia, faz abandonar o corpo e o espírito. Absorve-o e entrega-o. Que bonito molde resulta de tão aturado serviço. Que bonito molde, demasiado perfeito. Intentar contra a auto-estima, provocar o amor próprio, convocar um machado e suspendê-lo por cima da competência acumulada do homem. Testar. Percorrer firme sem espaço para respostas ambigúas. Saber se sim, se não.