domingo, maio 09, 2004

Valha-nos a Nossa Senhora!

Vi hoje no DN que há um panfleto a correr para os lados de Fátima com mais ou menos a seguinte mensagem na capa: "Tem compaixão de Nossa Senhora, Com o teu voto não permitas que o Seu Filho seja posto fora da Europa". Confesso que só a ler isto não percebi nada, a mensagem é um bocado críptica (o filho de quem? fora da Europa para onde?). No entanto a descrição da notícia é bastante clara. O panfleto tem como origem um grupo de cidadãos que se auto intitula: "Cidadãos para um Portugal livre" (Liberdade? É mais um exemplo de como grupos proto-fascistas e confessionais se tentam apropriar da imagética da democracia republicana para a corromper e esvaziar o seu conteúdo). O objectivo deste grupo é evitar que as pessoas, nas eleições para o Parlamento Europeu, votem nos partidos que se opuseram á inclusão da menção do nome de Deus no futuro Tratado que institua uma Constituição Europeia.
Eu voto que Portugal seja um país livre, livre dos padres serôdios que arrotam os seus avés-marias para os seus rebanhos. Eu não sou uma ovelha. Eu não faço parte de nenhum rebanho. Livre dos beatos falsos que andam a bater no peito a dizer: "Eu acredito, eu acredito", e toda a gente sabe que é mentira, pois senão o fosse eles não precisavam de o dizer, bastava agir. Livre deste cheiro a incenso bafiento que nos corrompe e que é uma das causas da queda dos povos penínsulares (perguntem a Eça).
A separação entre a igreja e o Estado é uma das bases do nosso Estado de Direito e do nosso regime democrático (é a base de qualquer regime democrático). A Constituição assim o estabelece, tal como proíbe o uso de imagens ou simbolos religiosos nos partidos e nas campanhas eleitorais. Isso nunca impediu de eu ver pintado numa parede de uma aldeia da Beira Alta (Cavaquistão profundo), "Se Jesus cá viesse, votava no CDS". Para quando uma democracia completa? Valha-nos Deus! Ou não...