segunda-feira, maio 17, 2004

Quando se confundem os lados resta muito pouco.

A verdade histórica requer bem mais que uma excessiva concentração em incidentes de percurso inaceitáveis, mas marca de muitas guerras e por parte de diversos intervenientes. Como falamos de um país democrático vieram rapidamente a público os excessos resultantes da pressao que a guerra provoca na estabilidade dos soldados e alguns dos envolvidos começam desde já a ser julgados em tribunais marciais e espera-se que as consequencias mais pesadas se façam sentir sobre as chefias militares directas. A verdade histórica também não se compadece com visões parcelares que dificultam o olhar global. Empolar uma humilhação fotografada segue a visão anti-americana, esquecer a decapitação filmada de um norte-americano também. Se falamos de direitos humanos, existe claramente um foco de exigência em relação aos EUA (e bem) mas demasiado caritativo com atentados criminosos que subsistem por parte de quem nega um iraque livre. Muito se pode ler sobre «os demónios americanos» até se podem encontrar ódios repentes que levam a escrever coisas pouco pensadas como «Bush igualou-se a Sadam». Atinge muita gente um princípio funcional que provoca apatia generalizada quando se trata de condenar as tentativas criminosas dos saudosistas de Sadam liderados por um tal Moqtad, e que não representam a vontade da maioria dos iraquianos, mas que provoca disparos de adrenalina quando o que conta é enxovalhar os EUA de forma obssessiva, propangandística, adepta, e acusatória, identificando desesperadamente nos EUA a origem de todos os males sociais que nos assolam. Existe uma atmosfera que estimula a indiferença aquando da condenaçao do horror terrorista no Iraque, quase se entrevê um certo acomodar ao habito (do tipo racista: «não é novidade, eles matam porque é-lhes de cultura própria»), mas de uma militança exacerbada quando se trata de condenar os EUA. Sucede que o Iraque de Sadam nao se encontrava inserido em nenhum equilibrio geoestrategico como estao muitos dos paises identificados como potencialmente perigosos. Nem se vislumbra a ligaçao da Birmania, da Coreia do Norte ou da China ao terrorismo que como se sabe é arabe e que foi largamente apoiado por Sadam. A moralidade impera de forma unilateral e simplista. Os EUA nao podem ir a um, senao teem que ir a todos. Por outro lado o farol mediatico concentra-se sobre os EUA, como se nao existissem outros casos que superam de forma flagrante e silenciada a «vileza» norte-americana.

A ONU não é uma entidade extraterrestre. A ONU burocratizada dos dias de hoje agoniza com a cobardia da França e da Alemanha. Afirmar que existe alguma desorientação política em relação ao Iraque por parte da administração Bush é aceitável e constitui um problema que provavelmente só será resolvido com a transição do poder de facto. No terreno e na globalidade, fora algumas insurreições terroristas localizadas, o futuro do Iraque não está de forma algum comprometido e encontra-se muito distante da guerra civil que alguns previam. Comparar Bush a Sadam resulta numa subversão completa e abre caminho aos maiores perigos. Os EUA como a Europa representam a sociedade ocidental democrática e livre. Não podemos misturar gratuitamente a liberdade com o sangue de um ditador criminoso. A liberdade ocidental não carece de auto-flagelação.

Seria tremendamente mais proveitoso que o anti-americanismo primário se tranfigurasse num movimento alargado de pressao publica para que o eterno conflito israelo-palestiniano caminhe para uma soluçao de compromisso que significaria um esvaziamento da «causa terrorista». Claro que isso nunca traria os divendos que as forças politicas do «anti-imperialismo» ganham com a manipulaçao que fazem da actualidade. Nunca os ganhos eleitorais se basearam tanto em fachadas moralistas. Fica para outro post.