sábado, maio 08, 2004

A propósito do uso do traje académico

penso que devia ser banido, quanto mais não fosse, por uma flagrante ausência de estética. Mas a discussão levantada pelo taco de basebol do Edgar, leva a minha machadada final. As razões do uso da vestimenta lembrou-me um conceito que gosto invariavelmente de ter presente e de que não tinha aqui falado directamente: a Motivação. Os comportamentos que se baseiam na acção motora, ou seja que são minimamente observáveis, tem sempre uma leitura motivacional. Ora os motivos de escolhas voluntárias estão muito aquém do mero ‘eu gosto’, ou ‘apetece-me’, ou ‘faz-me sentir bem’, isto se são causas explicativas remetem para um motivo primário - a necessidade de segurança. Em paralelo a menos que se considere usar traje uma abstracção, apenas nessa circunstancia podemos utilizar argumentos de matriz irracional. Mas isto, mais uma vez, envolve um erro de palmatória muito a montante. Não e' de bom tom, constitui-se mesmo irrelevante tentar explicar um sentimento em estado puro. Ora nem de longe nem de perto: usar traje não e' um sentimento e não me parece que envolva emoções fortes... Portanto pode ser questionado. O principal argumento a favor do uso do traje, eu ajudo, e' de que a sua utilização e' perfeitamente inócua. Mas humildemente lanço um alerta. Juntar muitas coisas inócuas na vida, não demonstra grande amor pela mesma. Conclusão: usar traje e' nada.

A orientação para um comportamento, fazendo a ressalva da existência de emoções que se baseiam numa raiz filogenetica e de trato mais complexo, ou mais ainda os sentimentos, das construções humanas mais importantes envolvendo um conjunto instável de emoções diversas e contraditórias, a orientação para um comportamento, dizia, pode ser tratado com um grau assinalável de objectividade. O estudo da motivação e' uma tarefa bem interessante, embora muitas vezes trabalhosa. Basta pensar por exemplo em que se baseia principalmente em política a motivação para o poder. Oscultar as motivações dos homens públicos em direcção ao poder constitui um caminho revelador; talvez um trilho um tanto ignóbil. Penso sobretudo no retorno que a vida publica provoca ao nível da vida interior, se não for esse retorno afinal preexistente, origem e principal causa da acção.