terça-feira, maio 18, 2004

Não passará.

O conceito prévio, sem justificação fundada, tem apesar de tudo um valor didáctico e facilitador desde que funcione como meio de transporte. Se não se sai dos seus limites, mau, o caso muda de figura. O Vasco Pulido Valente pode ser arrogante. Ninguém leva a mal. Já eu não posso. Vão dizer que e' da idade. Passa com o tempo. Se estiver sentado num sitio confortável a falar com uma rapariga bonita e de cinco em cinco frases não resistir a apreciar-lhe as pernas, passarei por frustrado, ou imaturo. Vão dizer que e' da idade. Passa com o tempo. Quando um gajo diz duas ou três coisas vagamente diferentes recebe um olhar mimoso e uma festinha na cabeça «pronto já passou», paradoxalmente o pessoal jovem em busca da adulticia forçada e da hipoteca na Caixa Geral, ambas metas interligadas e identificadas como urgentes em muitos casos, são os principais utilizadores desta fantasiosa arma de plástico. Se ignorar alguma tarefa social mesmo que de importância mínima e motivada sabe-se lá porque causas obscuras vão chamar-me irresponsável. E naturalmente colocar as culpas nas duas décadas e tal. Passa com o tempo. Desisti de ter calendários em casa, a via sinuosa dá-me um certo descomprometimento. Falam-me da vida escorreita e eu peço qualquer coisa de substancial. Sei que pode funcionar para sisudos ou para pessoas boas. Senão se for muito inseguro pode-se dar ouvidos 'a multiplicidade que abunda o dia-a-dia, talvez fiquemos a rir ou chorar, isso já e' menos objectivo. Saber como viver preocupa o senhor do nervoso-miudinho. A mim não. Sempre fui um gajo calmo. O papel profissional e' uma construção alegórica que exige seriedade e exigência. A personalidade também mas em sentido oposto. São as características decorrentes da «imaturidade» que combatem o conformismo, a mentira e o vazio. Em certos círculos também se nota que alguma actividade pensante pode ser apelidada de «irreverência da idade». Claro que este post, e estragando tudo, pode ser mera teoria desculpabilizadora do próximo exagero etílico. Porque, destino cruel, hei-de ser para sempre imaturo. Brindemos a isso.