sábado, maio 01, 2004

Lx @ night.

Quem nasceu em Lisboa e desde que teve hipótese para tal, gira com frequência pelos sítios da noite chega a um ponto em que começa a questionar o tipo de espaços nocturnos que existem. Eu principalmente questiono o tipo de musica que se pode ouvir. Se por um lado o convivio, o divertimento, o álcool, ou mesmo o engate, para quem o procure, estão assegurados, já a junção de boa musica e cadeiras ou sofás livres pela noite dentro praticamente não existem. Façamos um levantamento e começamos pelos extremos da cidade: Docas e Parque das Nações. Nos dois locais podemos contar umas boas dezenas de bares que no cômputo geral se encontram bastante próximos seja no tipo de musica ou de pessoas que os frequentam. Impossível estar sentado, muito difícil conversar e um sempre presente som monótono e repetitivo, do tipo dance-tropical, que ficou algures no século passado. São locais vagamente interessantes para quem vem de visita e escolhidos para quem se inicia nas noitadas. São também referencias para festas de despedida de solteiro, festas universitárias e «quermesses» afins. Normalmente quem escolhe estes locais, começa e acaba a noite nos mesmos. Uma ressalva para o Parque das Nações, um espaço bastante bonito, para o Peter’s Café Sport, o Bugix e os ‘Irish’. Depois temos Santos que constitui sempre uma boa hipótese. Os bares são bastante movimentados, um entra e sai constante, a musica ali e' um jogo de sorte e azar, mas regra geral não compromete. Serve de ‘aquecimento’ para as discotecas da 24 de Julho, Queens e vizinhança no topo das escolhas, o Kremlin como sempiterna hipótese e a People, espaço muito bem pensado fora o som, que para acompanhar o restante ambiente deveria ser de autor. Depois o Bairro Alto. E' o local por excelência da noite Lisboeta. A ‘fauna’ e’ o mais diversificada que se possa imaginar, entre a rua e os diversos bares a animação e' certa. Que dizer do som que passa? Três estilos aglutinadores: a dance-music vinda directamente do Cd, o Rock mais ou menos saudosista e o Jazz. Os bares de jazz, por uma questão de espaço, constituem a hipótese mais correcta para quem quer aliar o convívio, o álcool e uma mesa. Depois os noctívagos dividem-se: uns após as 4 da matina voltam para casa, outros seguem para as discotecas, Lux 'a cabeça. O Lux e' tão somente o melhor espaço quando se sai 'a noite. Feito o levantamento, o que falta em Lisboa? Faltam bares espaçosos com um ambiente próximo do piso de cima do Lux ou numa outra perspectiva, como o Jardim do Tabaco, e que passem musica não digo como a que se ouve no bar do Lux, mas musica que reflicta o que de qualidade se vai vendendo no nosso país. Que existe. Bares que passem a musica que temos em casa, e mais importante, que gostávamos de ter em casa. Bares que paralelamente arrisquem e inovem. E apostem nas novas bandas portugueses com musica de qualidade europeia. Porque estas condições não existem em Lisboa. A noite lisboeta vive acima de tudo da imaturidade e do binómio bar-antes/discoteca-depois. Que são legitimas, mas outras ideias eram possíveis. Nem todos os dias apetece dançar. Quem sai com frequência gosta de diversidade e se a boa companhia ate pode estar assegurada já a decência da musica muitas vezes não.