A fuga.
Um destes dias presenciei uma cena que não valeria dois tostões furados, tal a sua vileza.
Num bar lisboeta bem frequentado, tranquilo e com certo ambiente familiar, mais motivado pelo trato e omnipresença dos donos do que pela variável presença dos noctívagos, dois homens de meia idade, talvez um pouco menos, conversam de modo digno e simpático sentados ao balcão. Numa mesa próximo dialogam duas raparigas, com ar pouco leve, talvez trintonas, talvez pouco menos, passam despercebidas, parecem cultivar a simplicidade, mas não as questionemos acerca disso ou acerca de qualquer outra coisa que implique verdade ou comprometimento, ficariam decerto acidas, confundem partilha com desonra, poderiam ser belas senão se esforçassem por se ignorar, apreciam o recato, a ausência, o silencio. Odeiam ser olhadas porque não gostam de se expor. O que esconderão? Os dois homens pedem ‘a empregada/proprietária que leve duas cervejas ‘a mesa onde conversam as raparigas dos segredos inomináveis e aquela, depois de colocar os copos na mesa, informa de modo correcto a proveniência das cervejas. Nota-se um repentino nervosismo nas raparigas. Estarrecem. Por segundos, não sabem para onde olhar. Finalmente, entreolham-se. Estão confusas. Envergonham-se. Subitamente sedentas, bebem metade da cerveja de um trago. Uma começa a procurar a mala, a outra tenta vestir o casaco. Atabalhoada, não acerta com a manga. A da mala, e que se encontra mais próximo da porta, levanta-se. Ela olha de modo suplicante para a companheira: que se apresse. A manga continua incerta e o nervosismo cresce. Impossível continuar ali de pé, hesita, mas num assomo de egoísmo volta-se para a porta e com passos largos, baixa a cabeça e sai. Abandonou a amiga, traiu a amizade, mas o perigo espreitava e a cobardia venceu. A necessidade libertou os movimentos, o braço encontrou a manga. A outra rapariga corre de mala aberta e cruza a porta, vira para o lado oposto da companheira. Fugiram. Havia medo.
Poderiam ter adoptado uma postura imperturbável e no final agradecer ou desejar somente boa noite. Ou poderiam amavelmente declinar a oferta quem sabe com um esboço de sorriso, oferecendo um pormenor de simpatia que decerto os infelizes galanteadores apreciariam como uma paisagem repleta. Mas que digo eu? Nunca conseguiriam. Não entendem a liberdade. Mulherzinhas.
Num bar lisboeta bem frequentado, tranquilo e com certo ambiente familiar, mais motivado pelo trato e omnipresença dos donos do que pela variável presença dos noctívagos, dois homens de meia idade, talvez um pouco menos, conversam de modo digno e simpático sentados ao balcão. Numa mesa próximo dialogam duas raparigas, com ar pouco leve, talvez trintonas, talvez pouco menos, passam despercebidas, parecem cultivar a simplicidade, mas não as questionemos acerca disso ou acerca de qualquer outra coisa que implique verdade ou comprometimento, ficariam decerto acidas, confundem partilha com desonra, poderiam ser belas senão se esforçassem por se ignorar, apreciam o recato, a ausência, o silencio. Odeiam ser olhadas porque não gostam de se expor. O que esconderão? Os dois homens pedem ‘a empregada/proprietária que leve duas cervejas ‘a mesa onde conversam as raparigas dos segredos inomináveis e aquela, depois de colocar os copos na mesa, informa de modo correcto a proveniência das cervejas. Nota-se um repentino nervosismo nas raparigas. Estarrecem. Por segundos, não sabem para onde olhar. Finalmente, entreolham-se. Estão confusas. Envergonham-se. Subitamente sedentas, bebem metade da cerveja de um trago. Uma começa a procurar a mala, a outra tenta vestir o casaco. Atabalhoada, não acerta com a manga. A da mala, e que se encontra mais próximo da porta, levanta-se. Ela olha de modo suplicante para a companheira: que se apresse. A manga continua incerta e o nervosismo cresce. Impossível continuar ali de pé, hesita, mas num assomo de egoísmo volta-se para a porta e com passos largos, baixa a cabeça e sai. Abandonou a amiga, traiu a amizade, mas o perigo espreitava e a cobardia venceu. A necessidade libertou os movimentos, o braço encontrou a manga. A outra rapariga corre de mala aberta e cruza a porta, vira para o lado oposto da companheira. Fugiram. Havia medo.
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3 Comments:
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