domingo, maio 02, 2004

Dedicatória em vento ímpeto.

O principio pode ser um anseio, uma incerteza, ou uma continuidade camuflada. Se o principio não for uma queda repentina, será ainda e sempre, um inicio que balanceia o positivismo de cada descoberta; a intimidade e' uma solidão bonita, se a dois partilhada meio caminho para o amor; o descanso envolve um outro, outro lugar, porque um outro Eu e' impossível, escolha-se sul em vez de norte ou norte em vez de sul, escolha-se e prepare-se a partida. O regresso nunca se prepara, impõe-se; a mente virada para o horizonte origina pecadilhos vários, abandonemos o corpo ate' ao limite do sofrimento; há uma voz especial que me impele e dirige para as tuas palavras, as tuas palavras não me interessam, no entanto são ditas por ti, fala-me sobre ti, juro-te que nunca te esquecerei, podes morrer, defenderei ser o único a enterrar-te e vou amolecer a terra com o sal das minhas lagrimas, morra antes o esquecimento que e' a morte mais dolorosa, como a verdade; de todas as visitas surpresa a que te preparei foi a mais longamente reflectida, não sei quantas estações demorou, mas tive frio e tive calor e tornei a ter frio e tornei a ter calor, mas quando te vi apenas tive calor e quando tirei o casaco perdi o plano, o maior dos breves prazeres durou aquele segundo do ombro a ombro, quando passaste por mim lado a lado, e não me reconheces-te; foi no miradouro, que bem sabes observatório de muitas ruas, que chorei os meus pensamentos, o teu sorriso pairava na lembrança como um busto palpável, no final o teu sorriso não era senão deturpação, já te imaginava com a cara doce e infantil da criança suja que brincava e eu observava a dez passos de mim, as ruas percorri-as mais tarde, o mundo e' muito pequeno e aquela criança também; o melhor despertar, reparo agora, e' quando um farol interior nos alerta e orienta para um esforço repleto de vida, era puto e tão perto de ti, quando subia e descia 'a força de pernas a minha serra natal adoptiva, a tua serra natural, as rampas subia-as como a pulso e ao desce-las esperava ser catapultado, também a vida trepo-a a pulso e silencio-me quando o desejo e' utopia, a vida isso sei-o há muito, nunca se desce; o sol e a lua servem para modificar os estados de espirito que são efémeros pela natureza, impossíveis sentimentos contemplativos (menores) acuso e desprezo os carnavais de emoções (menores), deixa-me ser sempre feliz, o sol e a lua são sempre os mesmos; a paz e' o único divino deus, talvez uma flor a flutuar, quase imperceptível o seu movimento, quando os nossos olhos estiverem cansados e ambos os corpos ávidos permite-me beber o teu erotismo e comer a tua carne, existe um mistério na beleza que nos possui como escravos, e não, nem sempre prejudica ser escravo, deixa-me amar-te em todos os lugares estranhos, são cenários e nós não somos meros actores; nunca fales do fim inventa inícios «chamo-Te porque tudo está ainda no principio», que tudo seja ou se transforme num longo e proveitoso principio e' a minha melhor ideia, um saber com todas as possibilidades em presente contínuo, se o inferno somos nós são nossos todos os caminhos para nos afastarmos dele, mesmo que digas serem estas palavras vazias nunca mais olhes o espelho não vá acontecer encontrares-me; a iniciativa e' motor de todos os dias, ainda que fique apenas guardada dentro das nossas fraquezas, quero ser louco e furioso e agir, talvez um dia fale com ela num espaço para sempre imortalizado nesta pobre Lisboa alfacinha; deixa-me dançar contigo o resto da noite.