Um Ze' do telhado vindo do leste.
Eu costumava parodiar o ucraniano que passou a morar no andar ao lado, neste quinto andar a caminho do ceu, do predio pombalino onde vivo. O que se passa e' que o senhor gosta de se plantar na larga janela da sua casa emprestada, e fazer discursos improvisados para o horizonte, tendo como improvaveis ouvintes a estaçao de Santa Apolonia, o Tejo, e se tiver bom ouvido, o castelo de Palmela. A rua fica muito em baixo, as silabas arranhadas nao devem chegar aos ouvidos dos transeuntes, alheios do homem que continuamente tenta a sorte . Do portugues complicado do senhor, podem-se perceber alguns improperios dirigidos 'a nossa abençoada naçao. Resultado decerto de uma convivencia conflituosa com um patrao explorador. O homem trabalha nas obras do meu predio e ao mesmo tempo tornou-se o vizinho do lado. Sucede que este homem nao e' ucraniano. Hoje na pagina 60 da revista Noticias Magazine, que sai com o DN e com o JN, para meu pasmo deparo-me com uma fotografia de pagina inteira tirada em cima do telhado do predio ao agora meu famoso vizinho. Apresenta-se ele com o seu peculiar ar de bom malandro. Mas desta vez um malandro a equilibrar-se. O que ja' e' um principio, quanto mais nao seja porque a queda nao pouparia nem um gato com as suas sete vidas. E' georgiano e tem uma veia de filosofo. O pai deu-lhe o nome de Jimi Curjishvili em honra de Jimmy Carter e, sacrilegio no tempo presente, por respeito 'a America. Tambem e' artista. Pinta paredes e casas mas aborrece-se porque ninguem quer que ele pinte quadros. Mas ha' mais. Faz poemas e utiliza como pseudonimo Karl Marx. Tambem faz musica e na sua terra natal ja teve um programa intitulado Rock Legacy. E porque saiu do seu pais? Pelo motivo mais simples e crucial: segundo ele, para perceber a vida e ver a verdade. Sera Portugal um bom lugar para essa busca?
Entretanto o palanque da janela do quinto andar vai continuar a proporcionar o desabafo das palavras. Sopre-as o vento para longe. Quem sabe exista algum ricochete feliz.
Entretanto o palanque da janela do quinto andar vai continuar a proporcionar o desabafo das palavras. Sopre-as o vento para longe. Quem sabe exista algum ricochete feliz.
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