terça-feira, março 09, 2004

Será que tenho um corpo?

Ao passar pelo Chiado não pude deixar de reparar num cartaz desse verdadeiro farol da nossa cultura pós-contemporânea, essa verdadeira candeia que vai na vanguarda da sociedade (e candeia que vai à frente alumia duas vezes, já lá dizia a minha avó) que é o Espaço Évoé. Depois dos cursos “bué da” alternativos do costume está um curso que me prendeu a atenção: “Consciência corporal”. Aparentemente trata-se de um curso para as pessoas que não têm consciência que têm um corpo. Todo esse mundo de pessoas que até hoje se interrogavam, “será que tenho corpo?”, têm a partir de hoje um lugar onde se dirigir. A grande interrogação: “cogito ergo sum, mas será que existo só em espírito ou também em matéria?” será respondida.
A grande interrogação será: quem é que não tem consciência que tem um corpo? Alguém com a cabeça nas nuvens? Alguém muito espiritual? Mas não está na moda ser muito espiritual? Ou será que as pessoas, à força de quererem ser tanto espirituais para estarem na moda, se esqueceram que têm um corpo? E se experimentassem beliscar-se? Assim apercebiam-se que tinham um corpo. Nos casos mais graves talvez uma pancadita com um martelo surtisse o mesmo efeito... Ou, a grande interrogação, o que é que fazem se as pessoas não ganharem consciência que têm um corpo, devolvem o dinheiro ou fornecem eles um? E se fornecerem, é o corpo de quem?
Mas espera... talvez seja consciência corporal no sentido marxista da coisa, ou seja, uma espécie de consciência de classe do corpo. O corpo, não será mais do que mão de obra explorada sem dó nem piedade pelo espírito, aquele que detém os meios de produção. Será importante por isso que o corpo ganhe consciência da sua exploração, para se poder levantar e instituir uma ditadura do proletariado rumo aos amanhãs que cantam socialistas... Mas... isto não faz sentido nenhum. Bem, se calhar estou a exagerar.
Agora a sério, mesmo para um curso new age este tem um nome um bocado estranho. Será que era possível ser mais vago?