sábado, março 20, 2004

O poder.

Contra o fundamentalismo de grandes civilizacoes caidas em desgraça (passo a evidente tomada da parte pelo todo) respirar o relativismo da sociedade ocidental resulta numa enorme vantagem cognitiva. Mas quando o relativismo nao se perde no enorme campo da subjectividade emergem sempre algumas verdades absolutas, resultado de um sentido etico que se procura aplicar, diz Pacheco Pereira no Publico de quinta-feira:

Não foi a vitória socialista que representa o sucesso da Al-Qaeda, nem sequer a derrota do PP. Para um democrata, eleições livres, mesmo que realizadas num ambiente de tensão, são uma genuína demonstração da vontade do povo espanhol. Estas eleições espanholas foram eleições livres e nada a dizer sobre isso. Houve manipulação de parte a parte, medo, votos de emoção? É possível. O medo é um mau conselheiro, mas o medo tanto podia "aconselhar" o voto no PP, como no PSOE. Face ao terrorismo, não há medos bons nem maus.
O problema é outro e começou no dia seguinte. Ao escolher, no dia seguinte às eleições, fazer as afirmações que fez, sobre a retirada das tropas do Iraque, e criticando Bush e Blair, Zapatero deu à Al-Qaeda a vitória que esta podia não ter tido. Bastava que Zapatero tivesse no dia seguinte falado apenas no terrorismo, na sua firme disposição de o combater e de combater a Al-Qaeda, sem quaisquer tréguas. O resto podia ir dizendo depois, com a prudência que se recomendava.


A indignidade da gestao interesseira da informaçao disponivel quanto 'a autoria dos atentados de Madrid por Aznar, so' encontra paralelo com essa outra indignidade que foram as declaracoes prestadas de pronto por Zapatero quanto 'a retirada das tropas espanholas do Iraque. Duas indignidades, um motivo: uma causada pela procura desenfreada da manutençao do poder, outra resultado do subito deslumbramento que o poder provoca. O que e' o poder?