segunda-feira, março 29, 2004

Belgais e Incultura.

Nunca neguei o reconhecimento que o Tempestade Cerebral dá ao Centro de Artes de Belgais. Se assim não fosse não perdia tempo com a discussão, uma vez que tudo estaria inquinado desde o inicio! Mas existem questões que são de principio, não me parece que tenha que ser a pianista a ter de se ausentar do seu trabalho de criação artística e de gravação, do trabalho ‘in loco’, seja com as crianças seja com grandes nomes da musica, para vir promover junto da sociedade civil e do grande publico o seu Centro para as artes. Em ultima instancia, o projecto de Maria João Pires, não e' de fácil assimilação por parte do grande publico português, rico ou pobre, pouco instruído e pouco habituado a manifestações culturais (musicais) de tanta valia intrínseca. E isto resulta mais uma vez do Estado paupérrimo que temos e que nem carece de demonstração (mas que Francisco Jose Viegas ilustrou muito bem nos seus posts sobre o assunto). A pedagogia em relação 'a arte e' um trabalho que devia estar feito tendo como grande impulsionador exactamente o Estado através de políticas de Educação e Cultura que, no caso, principiam bem cedo nas escolas, como aliás está a fazer Maria João Pires na escola do primeiro ciclo da aldeia da Mata. Mais do que noutras matérias são as políticas de Estado que aqui devem dar o exemplo e demonstrar quais as prioridades. Se com a transmissão de valores culturais, julgo ser o Estado o actor com o papel mais importante, e penso-o na medida em que o nosso nível pouco desenvolvido a isso obriga, com a questão do financiamento parece-me ainda o Estado o principal responsável, seja através de institutos, câmaras municipais, ministérios, ou através do exercício da própria divulgação junto do publico. O que se passa e' que ainda não estamos em condições de deixar que sejam os privados, ou particulares, ou como se lhes queira chamar a dirigir-se e dirigir-nos por si so'. Ate que isso suceda com maior expressão há ainda uma enorme margem de manobra que cabe ao Estado cumprir. Porque se a massificação da educação e' um dado adquirido não me parece que a massificação da cultura de qualidade o seja, e isto acontece causado por uma gritante omissão por parte dos sucessivos 'cérebros' que temos tido a desempenhar funções nas políticas educacionais e culturais. Por tudo isto, parece-me claro que as causas do desinteresse da sociedade civil em projectos culturais de mérito, aproximam-se muito mais de um subdesenvolvimento simples (simples porque reside somente numa confusão de prioridades embalada por efeitos de mediatizaçao de sedução rápida) do que uma questão de tributação de impostos ou falta de autopromoção dos intervenientes. Por norma prefiro que a intervenção do Estado na vida em sociedade se insira nos estritos limites do indispensável, mas nas temáticas culturais muito resta ainda por fazer. Deixar os agentes culturais ao livre sabor do mercado (mas que mercado cultural?) não nos auxilia enquanto necessitados de um país de cultura.