sábado, fevereiro 14, 2004

De Silves (III).

Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim

Saúda o palácio das varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer

Ali moravam guerreiros como leoes e brancas gazelas,
e em que belas selvas e em que belos covis!

Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de ancas opulentas e talhe fatigado

Brancas e morenas produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças escuras!

Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo do rio
com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!

O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o da sua taça e outras o da sua boca

As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendoes do colo inimigo

Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo de salgueiro,
como se abre o botao para mostrar a flor.


Al-Mutamide, Evocaçao de Silves.




1242 - D. Paio Peres Correia reconquista Silves aos muçulmanos
depois de uma presença de quase cinco séculos.