terça-feira, janeiro 27, 2004

Modas.

Portugal, que é uma pilha de más noticias, um país a tender para o desgraçado, tem neste Inverno um motivo de largo regozijo: A mini-saia ressuscitou com tecidos ainda mais curtos e veio para se instalar no corpinho das meninas e, vamos lá, no das senhoras mais cuidadas. Se for acompanhado de umas meias a condizer e de uns saltos nos pézinhos, temos por essas pobres ruas causa de sobra para encher o olho e cultivar o gracejo. Isto por si só devia ser causa para se aligeirar no nosso espirito a inflação, o desemprego, a incompetência, o Santana, e esperar por dias melhores, uma vez que ‘não há desgraça que sempre dure’. Esta verdadeiramente desopilante e abençoada moda relembra a urgência de não passar o tempo todo com uma vida feia ou a rabujar como o velho zangado. Alguma coisa apesar de tudo tem que ser feita e, se for a satisfação da ânsia de sentir a alma toda de uma só vez, tanto melhor. Procure-se para isso o remédio que se ache mais eficaz. Como as ondas de um mar revolto, a flagelar, a castigar vez após vez as rochas, assim também a minha mão já vermelha imola o cúzinho airoso da menina que levianamente ignorava a frescura da alma.
Esotérico, hem? Nem por sombras. Afinal todos precisamos de um pouco de seriedade na vida. O que se passa é que estava eu sentado num café, quase doente de tanto cismar no pão que aumentou 20% na pastelaria onde me sirvo, quando reparo nuns joelhinhos bem torneados pertencentes a uma menina com uma generosa mini-saia insistindo em mante-los cruzados e exibindo fartamente os seus tornozelos e coxas. Quando me desloquei e agachei junto de tão belos joelhos, julgando-os solidários com a minha dor permiti-me declarar: ‘Vou acariciar suavemente’, recebi de pronto um estalo e um ‘ai Jesus’ que eu era tarado e estava a tentar uma ‘relação sexual forçada’, segundo ela ouvira recentemente num estudo de uma improvável psicóloga gorda. Segundo conselho do Edgar eu rapidamente me defendi: ‘Mas tu não percebes, eu tenho problemas...’ Eu que já estava a entrar em pânico por me aperceber que comparado com a tristeza dos espíritos a inflação era nada, recebi conforto e ela decidiu castigar-se pelo estalo que me deu. O resto da história vocês já sabem, são estas histórias que escasseiam mas que deviam antes abundar, este sim o verdadeiro amor ao proximo.