sábado, janeiro 24, 2004

A liberalizacao das drogas leves.

O Dr. Manuel Pinto Coelho (MPC) tem tido varias intervencoes dignas de registo no que diz respeito ao combate da visao permissiva que paulatinamente se vai instalando em Portugal em relacao ao consumo de drogas leves. Hoje pode-se encontrar mais um artigo nessa linha, desta vez no DN. A proposito das ultimas noticias que apontam para a possibilidade da prescricao medica da 'cannabis', MPC diz que se trata de mais uma manobra para aligeirar as opinioes e promover uma aceitacao generalizada da liberalizacao das drogas leves, porque o que devia ser posto em pratica, nessa circunstancia, era a prescricao do principio activo da cannabis. MPC, que me parece pessoa avisada e com conhecimentos cientificos fundados , tem levado a que eu nao seja tao perentorio em relacao 'a liberalizacao das drogas leves. De que vale parecer que se tem umas ideias bastante modernas e desafogadas se isso nao resolve absolutamente nada? No entanto continuo a pensar que o consumo das drogas leves nao e' de todo uma 'porta de entrada', na esmagadora maioria dos casos, para drogas mais nocivas e perigosas. Se admitirmos que as drogas leves sao um problema por si so' e nao um mero apendice das drogas realmente nefastas recentramos com mais eficacia a problematica. Nao sei se a liberalizacao resultaria numa diminuicao da atraccao que as drogas leves provocam, se as tornaria menos aliciantes. Julgo que numa primeira frase a liberalizacao originaria um 'boom' de consumo quase certo, mas numa segunda fase talvez o consumo estabilizasse e quem sabe se nao diminuiria. De qualquer forma apenas concebo a liberalizacao das drogas leves num quadro de previa e continuada divulgacao dos maleficios dos 'cannabinoides', principalmente no que 'as estruturas cognitivas concerne. Divulgacao que pode ser feita com ou sem liberalizacao! Embora a esse respeito apenas subsista o vazio... Devia-se tambem ter presente e de modo bastante claro que para alem do 'consumo recreativo' de drogas leves, que diga-se nao constitui perigo grave, existem muitos outros consumidores, jovens na sua maioria, que passaram a consumir 'charros' por forma a aligeirar estados de progressiva perca do 'eu' proximos do depressivo, que concorrem para uma ausencia de estados de escolha resultado de um certo tipo de vida que o presente moldou. Desta forma, uma associacao mais vincada entre o consumo frequente de drogas leves (sem entrarmos ainda na necessidade fisica que a 'cannabis' nao provoca a priori) e problemas de ordem social ou psicologica e' cada vez mais um facto que tem que ser encarado. O 'cool' das drogas leves devia ser ripostado com uma associacao a fraqueza e pouca autonomia. O problema e' que ha' certas dependencias contemporaneas que sao demasiado toleradas... Era uma maneira de se combater o consumo frequente e nocivo, por fazer o que seria uma verdadeira desmistificacao.
Se na questao do aborto e' bastante evidente que a descriminalizacao ate' 'as dez semanas concorre para limpar a hipocrisia que existe, constituindo-se como uma medida justa e que resolve um grave problema de saude publica, a descriminalizacao das drogas leves pode mostrar uma sociedade menos hipocrita mas que de resto nao resolve praticamente mais nada. Acima de tudo devia, como em tudo, haver informacao e divulgacao com bases cientificas junto dos jovens. Saber-se por exemplo que o nosso proprio organismo produz 'drogas' em quantidades controladas indispensaveis ao nosso funcionamento biologico. Porque e' que so' se fala em Educacao Sexual? (A realidade e' que so' se fala mesmo...)
A terminar apenas dizer que 'erradicar' o consumo de drogas e' uma tarefa impossivel e talvez mesmo desnecessaria, as drogas nao sao exclusivas do presente podem ser estudadas e explicadas como uma realidade antropologica.