José Alvaro Morais junta-se a João César Monteiro
Faz um ano neste dia 3 de Fevereiro que João César Monteiro morreu. Praticamente um ano após a sua morte, eis que se lamenta profundamente a morte de outro magnífico realizador português: José Alvaro Morais desapareceu ontem, e deixou-nos como seu último filme 'Quaresma'. Apenas posso falar deste, porque do realizador, foi o único que vi e desde logo a sua beleza intensa despertou-me para um realizador pouco conhecido e com uma obra que fica irremediavelmente incompleta e de que se podia esperar ainda muito. Pela mão de José Alvaro Morais assiste-se em 'Quaresma' a um filme de grande sensibilidade estética, tendo como cenários a Serra da Estrela e a raia interior, bem como mais à frente no filme, a Dinamarca. Através de Alvaro Morais ficamos a conhecer a actriz Beatriz Batarda que encarna um papel desconcertante e corajoso de defesa de si própria quebrando as amarras do sentimento de pertença que apenas a corrói. A procura desenfreada dos elementos por parte de uma excelente interpretação de Beatriz Batarda leva a que no apuro da sua busca, ela nao perca tempo com a 'paisagem humanizada' que se ergue insubstancialmente à sua volta. A força que brota da natureza revela-se essencial no retorno a um 'Eu' ambivalente que procura e reconcilia com o amor de um modo permanente. Ou pelo menos enquanto houver uma brisa gelada a sentir, ou uma paisagem a perder de vista diante do olhar. Portugal, este país de gente sofrivel, deve lamentar abundantemente a chegada ao fim de vidas que acrescentavam como poucas. José Alvaro Morais foi hoje a enterrar na Covilha e a terra serrana que ele com tanta mestria filmou, vai recebê-lo e chorá-lo cada vez que o vento soprar mais forte no granito, que fortifica os penhascos rudes e sinceros.
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