sábado, dezembro 20, 2003

Algumas perguntas singelas.

Quando os EUA atropelaram principios basilares do Direito Internacional fizeram-no apelando para alguns factos. Segundo uma retórica segundo a qual os fins justificam os meios pensou-se que se podia passar por cima de principios de Jus cogens (principios de Direito que são universais, cuja consciência de juridicidade vincula todos os países), entre os quais o direito de não ingerência (era o mesmo que durante a confusão eleitoral das últimas presidenciais americanas o Burundi se oferecer para fiscalizar as mesas de voto da Flórida), e a carta das Nações Unidas e outros textos de Direito Internacional tal como entre outros, a convenção de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra (que tem aquele espinho cravado na garganta que é a prisão de Guantanamo Bay. Os EUA fizeram guerra ao terrorismo no Afeganistão, mas as pessoas que prenderam não são prisioneiros de guerra?). E tudo isto em nome de um princípio muito incerto que é o da legítima defesa preventiva, que passada para o nível do comum dos mortais é mais ou menos eu poder matar um gajo se acreditar com muita força que ele me quer fazer mal... independentemente de pessoas insuspeitas me dizerem que ele não tem nenhuma arma, eu continuar a desconfiar com base em rumores... e mesmo se depois de eu matar o gajo se provar que ele não tinha os meios para me fazer mal, eu argumentar que ele pode um dia vir a ter... E para algumas pessoas eu é que tenho razão porque o gajo até era má res. Mas a legitima defesa não deve ser proporcional? E necessária? E não devemos analizar os argumentos abstraindo-nos do caso concreto?
Mas voltando ao que interessa, tudo isto foi feito com base na fezada dos EUA em que o Iraque possuia armas de destruição massiçaa... Onde é que elas estão?
Depois justificou-se com a implantação de democracia no Iraque. Onde é que ela está?
Acho uma piada aos que falam no futuro do Iraque como se falassem nos "amanhãs que cantam" de outros tempos e outras latitudes. Será que acreditam que o Iraque vai ser mesmo o paraíso na terra daqui a um ano? Nem que fossem dez... Apenas demostram um deconhecimento profundo da geo-estratégia da zona (problema dos curdos, sirios, sunitas, Irão...). Serão meros proto-comunistas encapotados?
Não é verdade que há uma maior destabilização na área do que antes da invasão (vide recentes atentados no Koweit e Arábia Saudita)? Não era isso que se pretendia evitar? O que é um facto que me parece indesmentível é que o Iraque é hoje em dia um sí­tio muito mais incentivador para o terrorismo do que alguma vez foi. Isto não será um fracasso? E a constituinte, é para quando? Apanharam o Sr Saddam, mas o objectivo não era o Bin Laden? E já toda a gente se esqueceu do Afeganistão? É que eles ainda lá estão todos: taliban, senhores da guerra, mulheres de burqa, etc, no entanto parece que toda a gente se esqueceu. Que paí­s irão os americanos invadir a seguir para nos esquecermos do Iraque? Será a França? Bem Portugal não deve ser de certeza, a nossa política externa resume-se a concordar com os americanos... seja lá no que for.