domingo, dezembro 07, 2003

Alcantara-Ceus.

Sobre a discussao acerca dos 3 arranha-ceus de cerca de 105 metros a projectar por Siza Vieira em Alcantara, tema abordado no GANG e que se prolongou n’ O Projecto e no Blog Sem Nome bem como noutros blogs, a minha vocacao omnisciente permite-me dizer algumas coisas. De resto, nao penso que a arquitectura seja uma materia muito hermetica, a menos que estejamos a falar de um condominio fechado... Portugal tem falta de bons arquitectos paisagistas envolvidos seriamente na contrucao civil e ainda mais de especialistas em urbanismo, estes nem os ha' bons nem maus. Nao os ha'. Dando uma volta pelas nossas cidades, digamos as cidades medias que correspondem as capitais de distrito, da' ideia que as novas urbanizacoes foram projectadas por engenheiros civis sem grandes preocupacoes com a estetica e a mobilidade, ou com a seguranca, bem como sem atender ao enquadramento paisagistico e historico das diversas regioes. Os construtores civis sao, desta forma, pessoas bem sucedidas 'a custa de obra edificada bastante discutivel. Encontrando-se ainda assim varias excepcoes, que constituem uma mais valia para as cidades que as conseguem gerar.
A construcao em altura na capital tem sido residual e regra geral bem pensada, porem nao julgo que deva ser essa a politica de base que o urbanismo em Lisboa deve seguir, ate' porque parece-me inconcebivel, tecnica e historicamente falando. Contudo em alguns locais, como Alcantara talvez, podera' ser um caminho viavel na medida em que num espaco limitado se aumenta a densidade populacional, o que significa efeitos positivos em zonas de populacao envelhecida que precisam de ser revitalizadas. Tendo ao mesmo tempo presente que os arranha-ceus sao um patrimonio muito caro e portanto nao ao alcance de todos.

Como em tudo, o problema nao e' existir, o problema e' não existir. A construcao em altura nao me incomoda, desde que a qualidade, a interligacao paisagistica e a seguranca (nao esquecendo que Lisboa e' uma zona sismica) estejam garantidas. O que me incomoda e' a inexistencia de uma politica concertada de reabilitacao do parque habitacional edificado para o coracao de Lisboa, bairros historicos e ‘avenidas novas’ nao se prestando vassalagem 'a especulacao imobiliaria e tornando o mercado de arrendamento aliciante. Este impulso deve ser motivado pela Camara em parceria com proprietarios e entidades privadas. E isto esta' directamente relacionado com a qualidade de vida, uma vez que quem pensa comprar casa, a maior parte os jovens, ou sao ricos ou veem-se impossibilitados de escolher Lisboa para viver. Esta sim e' a grande variavel que vai influenciar muitas outras. Como seja a necessidade de ir viver para a periferia com os movimentos pendulares adjacentes que em nada contribuem para a qualidade de vida das populacoes, porque esta deve ser a primeira preocupacao.