terça-feira, novembro 11, 2003

TGV para que te quero

Acabou mais uma cimeira ibérica com uma nota de surrealismo e mania das grandezas. Não se previu nem uma, nem duas, nem três, mas sim quatro, minhas senhoras e meus senhores, quatro ligações de TGV à Espanha. Porque não seis? Pode ser que à meia dúzia saia mais barato, ou que nos deêm um conjunto de atoalhados e um balde de plástico... Mas falando a sério, se for posível, porque isto parece uma comédia: alguém acredita nisto? A sério, alguém? Depois dos séculos que foi preciso para a porcaria do metro do Porto ser feito (uma coisa que parece a versão do elétrico 15 para o Restelo, só que sem ser pitoresco, é que nem chega a ser um elétrico rápido, é só um elétrico com faixa própria...) alguém acredita nisto? E não era suposto estarmos em contenção orçamental? Então e a conversa de não há aeroporto enquanto houver crianças em listas de espera? (Demagogia? Não!) Será que por milagre já não há? Ou já as mandaram trabalhar para pagar as propinas?
Graças a Deus que nos atrasamos e tivemos que seguir os espanhois, porque ninguém me consegue convencer que a ligação por Salamanca era melhor para o país do que a por Mérida. A única ligação que pode ser (eventualmente) económicamente rentável é a Lisboa - Madrid. É o lógico que esta se faça pelo caminho mais curto, são as duas capitais, grandes centros económicos, etc. Porquê o desvio para o Norte? Para contentar meia dúzia de baronetes do arriba Douro? Mas não se sabe que a própria ordem dos engenheiros portuguesa defendia o traçado espanhol? O medo dessa nortada é assim tão forte?
Porto - Vigo vai ser giro... gostava que alguém me explicasse para o que é que vai servir. É que eu já estive em Vigo, e não há lá nada. A sério, aquilo é um porto, como o Porto... (OK, eu sei que o porto do Porto é Leixões, mas o trocadilho era irresistível). E ficam tão perto que não sei se o TGV vai sequer alcançar velocidade máxima por tempo suficiente para ser rentável... é que ficavam melhor servidos por uma rede de camionagem expresso com faixa própria na autoestrada... ou melhor: porque não levar o Metro até lá?
A sério então e o investimento nas linhas que existem, as electrificações que faltam, o tornar o comboio um meio de transporte verdadeiramente alternativo ao automóvel, mas sem estes exageros.
(Esta megalomania faz-me sempre lembrar aquela história de D. João V que quando soube quando custava um carrilhão para Mafra, encomendou dois. Ouro do Brasil, claro. Não chegou a saber foi que um só servia perfeitamente, aliás é o único convento do mundo que tem dois. Raramente foram utilizados, hoje acho que só há um português que os sabe tocar.)
Aveiro - Salamanca? Acho que gozar era fácil demais. Faro, ainda vá que não vá...
O que vale é ninguém acredita que isto vá assim para a frente, mas se assim é porquê esta fantochada toda?
Uma última questão: TGV é para os franceses (Train à Grand Vitesse), os espanhois chamam-lhe AVE (Alta Velocidad Española), como é que nós lhe vamos chamar? Quem é que vamos imitar?