quinta-feira, novembro 06, 2003

Sim ha imigrantes demais, a viverem em condicoes demasiado humilhantes.

Sempre que alguem se insurge e condena actos, como aqueles noticiados recentemente em que cerca de 200 jovens, na sua grande maioria portugueses de origem africana, provocaram graves disturbios (leia-se vandalisaram, roubaram e agrediram) na linha suburbana de Sintra, ha outros que respondem apelidando os primeiros de racistas.
Ou seja, a um discurso politicamente incorrecto (errado) opoe-se um discurso politicamente correcto (errado). Parece que os segundos preferem ignorar este tipo de noticias (e ignoram, talvez porque sentem que a sua indulgencia os co-responsabiliza) e os primeiros, reagindo sumariamente, muitas vezes dizem disparates, na medida em que nao acrescentam nada ao debate a nao ser uns tantos adjectivos dirigidos a tao funestas criaturas que tem na massa do sangue a pratica de atentados a sociedade. O discurso politicamente correcto reage defendendo apaixonadamente os 'amigos imigrantes', de uma forma displicente nao propondo nada de serio para que actos levados a cabo por pessoas perfeitamente desintegradas nao se verifiquem. De salientar que o que gira em torno das questoes ligadas a imigracao e a (des)integracao, mais do que qualquer outra problematica.
Em primeiro lugar, e bom lembrar que o conceito 'raca' nao existe a nivel cientifico, e disto resulta existir sim, intolerancia, etnocentrismo, etc. Lembremo-nos tambem que integracao nao e sinonimo de assimilacao. Para melhor informacao recomenda-se a leitura de Levi-Strauss.
Os termos utilizados na condenacao de semelhantes actos sao, muitas vezes, apressados (como demonstra o Ultimo Reduto) e o Catolico e de Direita (CD) nao foge a regra, embora, eu concorde em parte com o ponto que tem sido mais contestado (agora tambem no Ter Voz), quando CD refere que ocorrencias similares sao frutos da desastrosa politica de imigracao seguida na ultima decada e meia, ou seja, umas largas dezenas de jovens de origem africana terem provocado graves disturbios na linha de Sintra e realmente consequencia nao de uma politica desastrosa, mas, mais ainda, de uma gritante ausencia de politicas de imigracao, fundadas no acolhimento socialmente estavel e sustentado (ou seja com um olhar tambem no futuro) de todos quantos escolhem o nosso pais para viver, neste contexto a negacao da entrada a certos individuos admito que seja um caminho a seguir, embora nunca como estrategia basilar de uma politica. Tal como, por exemplo, a fuga ao fisco e resultado de politicas fiscais injustas e por ai fora. Portanto, nao vejo qual a razao de no Bloguitica se atacar o CD no que a este ponto diz respeito. Onde o CD se espalha ao comprido e nas seguintes afirmacoes: pelo estudo comparado de diversos grupos etnicos e nacionais, nao so nos Estados Unidos mas um pouco por todo o mundo, prova cabalmente que o desempenho social desses grupos depende muito menos de situacoes que lhes sao exogenas e muito mais dos factores que lhes sao endogenos, ou seja, da cultura neles dominante, especialmente do respeito pelos valores etico-morais tradicionais, pela estabilidade familiar, pela nocao de que ao gozo dos benefecios e vantagens materiais de uma sociedade moderna e evoluida corresponde, necessaria e impreterivelmente, uma igual dose de trabalho, esforco e empenhamento. Isto e de um etnocentrismo manifesto e perigoso, porque esta claramente a inferiorizar a cultura a que os tais jovens pertencem. Ou seja, ficamos a saber que os comportamentos criminosos apresentados pelos jovens nao sao mais que resultado da sua cultura inferior. E onde chegamos com isto? Exterminam-se os pretos porque tem uma cultura 'inferior'? Nao digo, obviamente, como parece que faz crer o discurso politicamente correcto, que 'eles sao como nos', porque nao o sao, tem uma cultura naturalmente diferente da nossa. As suas origens sao diferentes, bem como a forma como sao educados. A diferenca faz parte da vida e enriquece-a.
Espero que o Bloguitica nao apoie este actual estado de coisas, porque o que esta a originar sao mas condicoes de vida a todos os niveis, seja a que comunidades nos referirmos, e claro as comunidades mais numerosas tem problemas mais urgentes e visiveis. As picardias entre o politicamente correcto e o politicamente incorrecto nao trazem, como se ve, grande substancia ao debate.
(Pede-se desculpa pela falta de acentos.)