sexta-feira, novembro 28, 2003

O inicio de um dia.

O que os preocupa e' a necessidade basica de se manterem quentes. A estacao suburbana naquela hora madrugadora e' um lugar inospito, escurecida pelo dia que tarda em raiar, ponto de passagem de largas dezenas de pessoas que respiram uma atmosfera melancolica, uniforme. Aquele que no meio do enorme grupo ri incontrolavel, mas envergonhadamente, e' um estrangeiro na manha suburbana. Hilariante o estado hipnotico, quase bovino, tal como os herbiveros na savana hirtos e nervosos prontos a fugir de algum predador, dos seus companheiros de infortunio.
O silencio e' sepulcral, os automatos olham (?) os carris paralelos, unico vestigio de harmonia onde se podem deter. A visao global da pequena multidao tornava-se forcosamente hilariante, para que nao fosse angustiante, dava ideia que mesmo que o comboio nunca chegasse as pessoas ali permaneceriam imoveis, grupalmente defendidas de desgracas diurnas maiores. O silvo desconfortavelmente agudo dos freios da composicao serve de despertador acordando momentaneamente o ajuntamento pendular que, de tao treinado, entra de uma so vez no comboio. A atmosfera da estacao liberta-se e a do interior das carruagens comprime-se. No meio dos olhos meio fechados das gentes, uma rapariga feia e sonifera desata numa verborreia na terceira pessoa, que so termina quando o comboio chega ao seu destino e vomita mais uma pequena multidao na grande cidade. A imobilidade bovina vai num apice dar lugar a uma barafunda divergente, o apisto citadino assim o exige.