domingo, outubro 19, 2003

Da incapacidade de ser amado ( e de amar)

e das suas expressoes visiveis, a fealdade, fala-nos Antonio Munoz Molina na sua compilacao de contos 'Nada do Outro Mundo':

'Havia qualquer coisa de cinzento na cara dela, em toda a sua pele, e tambem na expressao dos seus olhos, qualquer coisa que a tornava refractaria a qualquer acaso e a qualquer entusiasmo, e eu creio, que era precisamente nisso que estava a sua fealdade. Ha mulheres feias, da mesma forma que ha homens feios e criancas, caes e gatos feios, mas, exceptuando certas variedades monstruosas, e possivel que quase toda a gente, homens, mulheres, criancas e caes, possa chegar a ser atraente: basta que nos amem durante alguns minutos para que nos tornemos belos. Mas ha pessoas, ha homens, mulheres, criancas, caes, inclusivamente edificios e cidades inteiras, ate paises que por qualquer motivo rejeitam ferozmente a possibilidade de beleza e da oferta casual ou gratuita de ternura, e por conseguinte sao feios, de uma fealdade irreparavel, de uma fealdade sem misericordia, refractaria a tudo, ao amor, a higiene, a prosperidade, de uma fealdade medular, vingativa, vigilante, perversa.'